
Holanda confisca fabricante de chips chinesa usando lei da Guerra Fria e rebelião corporativa interna
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 12:50
4 min de leituraA Holanda acaba de criar um novo modelo de intervenção geopolítica em empresas de tecnologia. Sem nacionalizar, sem bloquear produção, mas tirando o poder estratégico das mãos de Pequim. O governo holandês assumiu o controle da Nexperia, fabricante de semicondutores de propriedade chinesa, usando uma lei de emergência de 1952 e uma rebelião coordenada de executivos europeus. A Wingtech Technology, controladora chinesa, mantém 99% das ações — mas perdeu toda a capacidade de decisão.
A operação começou com três executivos europeus
No dia 1º de outubro de 2025, três altos executivos da Nexperia — o diretor jurídico holandês Ruben Lichtenberg, o CFO alemão Stefan Tilger e o COO alemão Achim Kempe — entraram com uma petição no tribunal de Amsterdã solicitando investigação sobre a gestão da empresa-mãe chinesa. No mesmo dia, o governo holandês invocou a Lei de Disponibilidade de Bens (Goods Availability Act), legislação criada durante a Guerra Fria e que jamais havia sido utilizada em seus 73 anos de existência.
Horas depois, o tribunal suspendeu Zhang Xuezheng, presidente chinês da Nexperia, de todos os conselhos da empresa. Um diretor independente não-chinês foi nomeado com poder de voto decisivo sobre questões estratégicas — mudanças de IP, transferência de ativos, contratação de executivos e reorganizações operacionais ficaram bloqueadas por até um ano. A Wingtech continua recebendo lucros e dividendos, mas perdeu o comando da empresa que detém quase integralmente.
Por que a Holanda agiu agora
O Ministério de Assuntos Econômicos citou “deficiências graves e urgentes de governança” que ameaçavam a continuidade de conhecimentos tecnológicos críticos em solo europeu, especialmente para a indústria automotiva. Fontes do jornal holandês NRC afirmaram que o gatilho foi a suspeita de que a Nexperia planejava transferir conhecimento sensível de chips para a China, embora o governo não tenha confirmado oficialmente essa alegação
A Nexperia produz bilhões de chips semicondutores por ano para eletrônicos de consumo e veículos elétricos, incluindo clientes críticos para as montadoras europeias. O governo holandês classificou esses componentes como essenciais para a segurança econômica, comparáveis a alimentos, combustível ou medicamentos durante uma crise. A lei permite que o ministro bloqueie ou reverta decisões corporativas consideradas prejudiciais, mas a produção regular continua normalmente.
Mercados reagiram com queda e acusações de viés geopolítico
As ações da Wingtech despencaram 10% — o limite diário de queda na Bolsa de Xangai — assim que o anúncio foi divulgado na segunda-feira, 13 de outubro. A empresa publicou uma declaração furiosa no WeChat acusando os executivos europeus de “colusão com autoridades holandesas” para “alterar à força a estrutura de propriedade” e “usurpar direitos dos acionistas sob o pretexto de conformidade”. A postagem foi posteriormente deletada.
A Wingtech afirmou que a ação representa “intervenção excessiva motivada por viés geopolítico, e não por avaliação de risco baseada em fatos”. A empresa destacou que investiu mais de 150% a mais em P&D nos últimos três anos, adicionou quase 1.000 novas patentes globalmente e contribuiu com €130 milhões em impostos corporativos para a Holanda nos últimos cinco anos.
Uma lei que nunca havia sido acionada antes
A Lei de Disponibilidade de Bens foi criada durante a reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial e as crescentes tensões geopolíticas com a União Soviética. Desenhada para gerenciar recursos nacionais e garantir estabilidade econômica em caso de conflito futuro, a legislação permite que ministros do governo controlem o uso, modificação e manutenção de bens essenciais durante emergências — sem precisar declarar estado de emergência formal
Especialistas afirmam que a lei é reservada para emergências extremas, quando o governo precisa garantir suprimentos de produtos vitais durante crises. Aplicá-la a uma fabricante de semicondutores revela o quanto a Holanda considera chips como materiais críticos, equiparáveis a setores de energia ou defesa. Em 1º de outubro de 2025, o Ministério de Assuntos Econômicos delegou autoridade sob essa lei aos oficiais da Inspetoria de Segurança Econômica como supervisores responsáveis por aplicar ordens ministeriais.
O contexto geopolítico por trás da intervenção
A Wingtech foi incluída na “lista de entidades” do governo dos EUA em dezembro de 2024, classificada como ameaça à segurança nacional. Novas regras americanas bloqueiam automaticamente subsidiárias de propriedade majoritária, o que afeta diretamente a Nexperia. No Reino Unido, a Nexperia foi forçada a vender a Newport Wafer Fab em 2022, mais de um ano após a aquisição, também por questões de segurança nacional — a fábrica foi vendida para a americana Vishay Intertechnology por US$ 177 milhões em 2024.
Fonte: Hardware.com.br
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