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O dia em que a Sony tentou (e fracassou) derrotar o iPod; entenda o por quê
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O dia em que a Sony tentou (e fracassou) derrotar o iPod; entenda o por quê

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 15:22

4 min de leitura

Em 2005, quando o iPod já era um dispositivo dominante, a Sony — a mesma empresa que havia inventado o Walkman original e mudado para sempre a forma como consumimos música — lançou sua resposta mais ambiciosa ao domínio da Apple. O Walkman NW-A1200 (e a série A3000) chegou ao mercado com credenciais impressionantes: design futurista com tela OLED, 8GB de armazenamento, bateria de 20 horas e, pela primeira vez na história dos players digitais da Sony, suporte para formatos abertos como MP3 e WMA. No papel, era tudo o que os críticos e público pediam. Na prática, virou um dos maiores fiascos estratégicos da empresa.

Hardware de primeira, software precário

O dispositivo tinha argumentos sólidos do ponto de vista técnico. Armazenava até 5.300 músicas, oferecia qualidade de áudio superior à concorrência e apresentava acabamento que fazia jus à tradição Sony de excelência em hardware. Na época do lançamento, a crítica elogiava a construção robusta e o som cristalino, reconhecendo que a empresa havia entregue um produto à altura do iPod Nano em termos de especificações puras. Mas havia um problema monumental: o software.

O SonicStage, aplicativo obrigatório para transferir músicas ao dispositivo, entrou para a história como um dos piores softwares já desenvolvidos por uma grande empresa de tecnologia. Usuários relatavam travamentos constantes, interface confusa, lentidão insuportável e erros de instalação que tornavam a experiência frustrante do início ao fim.

Em fóruns especializados, donos de Walkmans digitais descreviam o SonicStage como “um desastre absoluto” e “pior que amadorismo”.

Connect Music Store: o iTunes que nunca foi

A loja digital Connect Music Store, lançada em maio de 2004 para competir diretamente com o iTunes, seguiu trajetória ainda mais desastrosa. Inicialmente atrelada ao MiniDisc — formato popular na Ásia e Europa, mas irrelevante nos Estados Unidos —, a plataforma nasceu com suporte apenas ao formato proprietário ATRAC e repleta de restrições de DRM que afastavam consumidores.

Em janeiro de 2006, menos de dois anos após o lançamento, executivos da própria Sony reconheceram internamente que o Connect estava “quebrado”. A empresa chegou a recomendar oficialmente que usuários abandonassem o Connect Player e voltassem ao antigo SonicStage.

Phil Wiser, executivo que liderava o projeto Connect, deixou a Sony em 2006 em meio ao colapso da plataforma, que nunca ultrapassou 3% do mercado de música digital. Analistas foram implacáveis: a Sony simplesmente não tinha expertise em criar software que conectasse dispositivos perfeitamente à internet, ao contrário da integração fluida entre iPod e iTunes que a Apple oferecia. Como definiu um analista da Forrester Research: “Apple é uma empresa de computadores, eles se especializam em digital. Sony é uma empresa de hardware. O problema é que eles não têm software e não entendem de software. Está completamente fora do DNA deles construir produtos para esta era digitalmente conectada”.

O cemitério dos rivais do iPod

A Sony estava longe de ser a única a fracassar na tentativa de desbancar o iPod. O mercado de players portáteis dos anos 2000 virou um verdadeiro cemitério de promessas não cumpridas e “iPod killers” que jamais mataram coisa alguma.

O Microsoft Zune chegou em novembro de 2006 com investimento multimilionário em marketing e especificações competitivas: tela de 3 polegadas, 30GB de armazenamento, rádio FM integrado e conexão Wi-Fi.

Microsoft Zune A Microsoft tinha recursos financeiros praticamente ilimitados e experiência em desafiar gigantes, mas cometeu erros fatais desde o início. A escolha do marrom como uma das cores principais virou piada instantânea entre consumidores. Mais grave: chegou tarde demais, enfrentando a quinta geração do iPod quando era apenas sua primeira tentativa. Mesmo após melhorias substanciais — o Zune HD de 2009 recebeu críticas excelentes por sua tela OLED e interface touch — o nome “Zune” já estava queimado no mercado. A Microsoft encerrou a linha em 2011, menos de cinco anos após o lançamento.

Microsoft Zune HD A Creative Labs investiu US$ 100 milhões em marketing para sua linha ZEN, com o fundador Sim Wong Hoo atacando publicamente o iPod. Em 2005, ele zombou do iPod Shuffle: “A indústria inteira vai rir disso, porque até o player chinês mais barato tem display e rádio FM”. Apesar da agressividade e de alguns méritos técnicos, a Creative nunca conseguiu abalar o império da Apple. A empresa acabou recebendo US$ 100 milhões da Apple em um acordo judicial sobre patentes — uma compensação pelo fracasso de mercado.

Outros competidores tiveram destinos semelhantes. O Diamond Rio PMP300, lançado em 1998, foi pioneiro mas tecnicamente limitado.

Fonte: Hardware.com.br

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