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O enigma das eras do gelo – e a busca dos ciclos que as governam
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O enigma das eras do gelo – e a busca dos ciclos que as governam

Publicado em 14 de outubro de 2025 às 14:00

3 min de leitura

O texto abaixo foi escrito por Daniel Galvão Carnier Fragoso (PETROBRAS e UFMG) e Matheus Kuchenbecker (UFVJM). Leia outros textos do blog Deriva Continental aqui

No dia a dia usamos relógios e calendários para organizar nossas tarefas e compromissos – muitas vezes, sem nos darmos conta de que essas pequenas atitudes nos sincronizam com os ritmos planetários.

O dia obedece os ciclos de rotação, em que o planeta gira sobre seu próprio eixo; os anos equivalem à translação, que é a órbita da Terra em torno do Sol. Esses ritmos não são apenas essenciais para medir o tempo, mas também influenciam discretas variações no clima ao longo do ano. Eles determinam as estações e, com elas, a maneira como nos vestimos, nos alimentamos e até mesmo como nos sentimos.

Na perspectiva do “tempo profundo” – que abrange os bilhões de anos da história da Terra – observamos outros ritmos planetários, com durações muito maiores do que os ciclos de dias, anos ou séculos que conhecemos. Esses ritmos ficam registrados no planeta, que estudamos a partir da união entre Geologia, Astronomia e Paleoclimatologia. Eles nos levam a vislumbrar como o cosmos e o tempo se entrelaçam para moldar a Terra e as diferentes paisagens que surgiram e desapareceram ao longo de sua história.

Um olhar profundo sobres os ciclos astronômicos

Civilizações antigas, de diferentes partes do mundo, desenvolveram um conhecimento surpreendentemente avançado sobre os ciclos astronômicos. Sumérios, Babilônios, Hindus, Chineses, Egípcios, Persas, Astecas, Maias e Celtas estão entre os povos que registraram suas observações do céu e construíram observatórios sofisticados para acompanhar os movimentos periódicos dos astros.

No Brasil, o chamado Observatório de Calçoene, no Amapá, também conhecido como “Stonehenge da Amazônia”, é um exemplo notável da relação entre culturas ancestrais e os ciclos celestes.

O Observatório de Calçoene, um dos mais impressionantes sítios de arqueoastronomia das Américas.Fragoso & Kuchenbecker (2025)/Divulgação A criação dos primeiros calendários, impulsionada pela observação dos ciclos astronômicos, exerceu um papel decisivo na evolução do conhecimento humano sobre o tempo e seus ritmos naturais. Nosso fascínio pela repetição constante dos movimentos observados no céu e na natureza despertou uma forma de pensar especialmente poderosa, capaz de organizar e expandir diferentes áreas do saber.

Os antigos gregos exemplificam perfeitamente essa tendência: movidos pelo desejo de compreender e prever fenômenos astronômicos, eles estruturaram grande parte do seu conhecimento em padrões cíclicos – algo que influenciou até mesmo a percepção das dinâmicas humanas. Não por acaso, a própria palavra “ciclo” deriva do termo grego κύκλος (kýklos), que significa “círculo” ou “roda”, reforçando essa visão circular e periódica do tempo. O legado dessa abordagem permanece profundamente enraizado na ciência moderna.

Representação artística inspirada em Preston e Henderson (1964), que ressalta o papel da periodicidade na compreensão de fenômenos naturais.Fragoso & Kuchenbecker (2025)/Divulgação Outro exemplo marcante é o trabalho do astrônomo grego Hiparco de Nicéia, que viveu por volta de 190 a.C. Com uma precisão impressionante, ele usou métodos matemáticos para calcular a duração do ano e prever a ocorrência de eclipses.

Suas descobertas sobre as mudanças graduais das posições das estrelas lançaram as bases para descobrirmos o que hoje chamamos de “precessão dos equinócios”, um movimento circular, lento e contínuo, do eixo de rotação do planeta, que se assemelha ao bamboleio de um pião. Enquanto o eixo gira, ele se inclina para diferentes direções ao longo do tempo, completando um ciclo a cada 20 mil anos aproximadamente.

Fonte: Superinteressante

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