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Universidades americanas costumavam tirar fotos de seus estudantes pelados
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Universidades americanas costumavam tirar fotos de seus estudantes pelados

Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 08:02

3 min de leitura

Na década de 1910, uma prática estranha começou em algumas universidades dos EUA: tirar fotos de seus calouros completamente nus. No começo do ano, os alunos eram chamados ao ginásio de esportes, despiam-se e tinham todas as suas partes do corpo medidas, dos tornozelos à circunferência da cabeça. Além dessas informações, os alunos também eram questionados sobre hábitos, doenças pregressas e histórico de saúde familiar.

As faculdades adeptas eram as mais prestigiadas, como Harvard, Yale e Boston. Cada uma tinha seu jeito de tirar as fotos, mas o enquadramento completo, mostrando todo o corpo, era o mais comum, principalmente após a primeira década. Em algumas poucas instituições, as mulheres eram autorizadas a cobrir o rosto com um lenço, impossibilitando sua identificação imediata.

Mas isso não era tudo: com o tempo, passaram a ser colocadas nas costas dos estudantes hastes metálicas que se projetavam para fora como uma crista. Os apetrechos, em teoria, permitiam observar melhor a curvatura das costas e detectar problemas como escoliose.

“Fui levado a uma sala sem janelas em um andar superior, onde homens vestidos com impecáveis ​​roupas brancas me instruíram a tirar toda a minha roupa”, contou em 1995 o jornalista Ron Rosenbaum numa importante reportagem do The New York Times sobre o assunto. “E então — e esta é a parte que ainda me custa a acreditar — eles fixaram pinos de metal na minha coluna. Não houve perfuração da pele, apenas da dignidade, já que os pinos de metal de dez centímetros foram fixados com adesivo nas minhas vértebras em intervalos regulares, do pescoço para baixo. Fui posicionado contra uma parede; um holofote iluminou meu perfil repleto de pinos e uma câmera registrou a cena”, contou ele.

Como as faculdades, em geral, eram single-sex, restritas apenas a homens ou apenas a mulheres, a prática não era considerada tão estranha, pelo menos no começo. E foi tão disseminada que muitas figuras públicas foram submetidas a ela, como os presidentes estadunidenses Franklin Roosevelt, John F. Kennedy e George Bush (pai), assim como celebridades como a atriz Meryl Streep e as escritoras Sylvia Plath e Nora Ephron.

Mas, afinal, por quê?

Os motivos

Antes de as fotos começarem a ser tiradas, os alunos já eram submetidos a medições, pesagem e questionários desde 1880 — as imagens foram apenas mais uma etapa dessa jornada. E tudo tinha um principal motivo: checagem de postura. Nessa época, final do século 19 e começo do 20, a boa postura era considerada um sinalizador de virtude, um traço que permitia aferir a qualidade social de um indivíduo. Mas esse conceito, em que uma característica física ganha valor moral, tem um nome bem conhecido hoje em dia: eugenia.

Da década de 1890 até a Segunda Guerra Mundial, a eugenia era ensinada como ciência nas faculdades dos EUA. Existia até um órgão público, o Escritório de Registros Eugênicos (Eugenics Record Office) que coletava dados dos cidadãos, inclusive batendo de porta em porta, e estabelecia os traços considerados desejáveis e os classificados como “degenerados”.

“Por meio de avaliações moralmente carregadas dessas características, os pesquisadores eugênicos estabeleceram uma linha divisória clara — ou limite — que bifurcou a nação entre as linhagens familiares que deveriam e as que não deveriam ter permissão para se reproduzir ou entrar no país”, afirma a pesquisadora Susan McKinnon em artigo sobre o tema.

A maioria dos alunos, tanto do primeiro ano quanto dos anos avançados, obtinha uma nota B ou C em relação à sua postura, com base nas fotos nuas. Isso implicava em duas coisas: primeiro, a recomendação de exercícios corretivos. Segundo, a tiragem de mais fotos para avaliar a evolução da postura, de modo que um mesmo estudante passava pelo ritual várias vezes ao longo da sua vida acadêmica.

A situação era piorada pelo machismo da época. “Henry Pickering Bowditch, que coletou dados biométricos no início do século 20 para o estado de Massachusetts, relatou que as mulheres eram fotografadas e medidas 50 vezes mais frequentemente do que os homens, cujas posturas eram consideradas muito superiores”, conta a pesquisadora Kris Belden-Adams em artigo sobre o tema. “Muitas vezes, o uso de espartilho era culpado pela má postura, embora fosse esperado das mulheres”.

Fonte: Superinteressante

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