
A história da dependência da Apple na China que enfurece o governo dos EUA
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 12:29
4 min de leituraA jornada da Apple para se tornar a empresa mais valiosa do mundo é uma saga de inovação, design e, crucialmente, uma profunda e complexa dependência com a China.
O que começou como uma estratégia de otimização de custos e escala transformou-se, de forma quase imperceptível, em um armamento tecnológico involuntário para Pequim, redefinindo o cenário geopolítico global e expondo as vulnerabilidades da gigante de Cupertino. Neste artigo vamos entender essa relação cultivada há tantos anos e que tem incomodado cada vez mais o governo dos EUA.
A arquitetura da dependência: a cadeia de produção da Apple na China
Em seus primórdios, a Apple fabricava seus próprios computadores, uma prática que perdurou até o retorno de Steve Jobs em 1997.
Perto da falência, a empresa teve que adotar o caminho da terceirização, inicialmente para a Coreia do Sul e Taiwan, e depois, massivamente, para a China. Tim Cook, então Diretor de Operações e, atual, CEO, foi o arquiteto dessa eficiência, construindo uma cadeia de suprimentos sem precedentes que se tornou um fator decisivo para a ascensão da Apple.
A escolha pela China não foi acidental. O país oferecia uma força de trabalho abundante, flexível e de baixo custo, complementada por políticas governamentais que garantiam salários baixos, moeda subvalorizada e leis trabalhistas flexíveis.
Essa combinação permitiu à Apple perseguir designs quase “impossíveis”, como do iMac, intrincados e desafiadores para automação, que só eram viáveis com milhares de trabalhadores executando tarefas repetitivas. A velocidade e a escala alcançadas eram assombrosas, com fábricas inteiras surgindo em questão de meses para atender à demanda da Apple. O controle exercido sobre essas operações era total.
Steve Jobs e o iMac A magnitude do investimento da Apple na China permanece impressionante. Em 2015, a empresa já direcionava cerca de US$ 55 bilhões anuais em investimentos no país, cifra que não considerava o valor de equipamentos e componentes, o que mais do que dobraria esse montante. Esse nível de aporte, mantido em 2025, supera iniciativas históricas de estímulo industrial e é maior do que o valor total dedicado recentemente pelo governo dos EUA ao reforço da indústria de semicondutores.
O valor dedicado recentemente pelo governo dos EUA ao reforço da indústria de semicondutores gira em torno de US$ 39 bilhões em subsídios aprovados pelo Chips and Science Act, além de investimentos diretos como a compra de 10% da Intel por US$ 8,9 bilhões. Em conjunto com programas e subsídios adicionais, o total destinado pelo governo soma aproximadamente entre US$ 40 bilhões e US$ 45 bilhões
Em 2012, o maquinário de propriedade da Apple na China já valia US$ 7,3 bilhões, superando o valor combinado de seus edifícios e lojas de varejo nos EUA. Essa infraestrutura colossal, aliada ao treinamento de cerca de 28 milhões de trabalhadores desde 2008, cimentou a China como o pivô inquestionável da produção da Apple, com 90% de sua fabricação global ainda dependente da cadeia de suprimentos chinesa.
O fortalecimento involuntário da indústria chinesa
A profunda imersão da Apple na China resultou em uma transferência de tecnologia e know-how de proporções geopolíticas. Engenheiros de elite da Apple, oriundos de instituições como MIT e Stanford, eram enviados às fábricas chinesas para treinar fornecedores, coinventar processos de produção e assegurar os exigentes padrões de qualidade da Apple.
Embora a Apple retivesse os direitos de propriedade intelectual para muitos desses processos, a execução em território chinês era complexa, e os fornecedores eram frequentemente autorizados a utilizar as novas habilidades adquiridas após um período determinado. Como um ex-engenheiro da Apple resumiu no livro “Apple in China: The Capture of the World’s Greatest Company” (ainda sem tradução para o português) : “Nós treinamos um país inteiro, e agora esse país está usando isso contra nós”.
Essa dinâmica ficou conhecida como “Apple Squeeze” – um modelo onde a Apple oferecia treinamento de engenharia rigoroso e padrões de qualidade inigualáveis em troca de margens de lucro “esmagadoramente baixas” para os fornecedores. Esses fornecedores aceitavam o acordo não pelos lucros imediatos, mas pelo conhecimento e experiência inestimáveis que lhes permitiam conquistar contratos mais lucrativos com outros clientes. Isso catalisou a formação de clusters industriais avançados ao redor das operações da Apple.
O surgimento da “cadeia de Suprimentos vermelha” (Red Supply Chain) é um testemunho direto dessa transferência de conhecimento. Inicialmente, fabricantes taiwaneses como a Foxconn desempenharam um papel crucial na industrialização chinesa. No entanto, Pequim adotou uma estratégia deliberada de “fuga de cérebros” de Taiwan, absorvendo o conhecimento e, em seguida, promovendo empresas locais. O governo chinês subsidiou pesadamente empresas como a Foxconn, fornecendo terras, maquinários e mão de obra, incentivando a integração vertical que tornava os clientes dependentes.
Fonte: Hardware.com.br
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