
A vez em que Picasso foi acusado de roubar a Mona Lisa
Publicado em 12 de outubro de 2025 às 18:01
3 min de leituraEram as primeiras horas do dia 5 de setembro de 1911 e a madrugada francesa estava em paz. No dia anterior, o aviador Roland Garros havia quebrado o recorde de altitude em um voo (4.250 metros) e a Marinha francesa havia exibido com orgulho sua frota de 50 navios militares, pronta para uso. Os franceses dormiam tranquilos. Nas ruas de Paris, entretanto, duas figuras se esgueiravam pela noite, tomadas pelo medo, pela ansiedade e pela culpa: o pintor espanhol Pablo Picasso e seu melhor amigo Guillaume Apollinaire.
Picasso e Apollinaire estavam em posse de duas estátuas roubadas do Museu do Louvre, dois bustos ibéricos que faziam parte da coleção fixa. Os artefatos haviam sido enfiados numa valise e, em sua fugaz caminhada noturna, os dois artistas desejavam lhes dar um fim indigno: atirar os bustos no Rio Sena, livrando-se assim das evidências de um crime e proteger-se do rigor da lei.
A cena deve ter sido cômica para quem eventualmente possa ter visto: o robusto Apollinaire e o franzino Picasso tentando carregar a pesada valise entre eles, o objeto suspenso num ângulo diagonal por causa da diferença de estatura entre eles. Acabaram decidindo carregar sozinhos, em turnos.
Mas, talvez por empatia pelas obras que seriam para sempre perdidas, ou então pelo puro medo de serem vistos, os dois desistiram do plano. Resolveram retornar ao bairro de Montmartre com a valise e rever suas opções.
“Eles voltaram às duas da manhã, absolutamente exaustos. Ainda carregavam as malas e seu conteúdo. Tinham vagado para cima e para baixo, incapazes de se livrar de seu pacote. Achavam que estavam sendo seguidos. Suas imaginações criavam mil possíveis acontecimentos, cada um mais fantástico que o outro”, escreveu o jornalista Norman Mailer, que lançou uma biografia de Picasso em 1995.
As duas estátuas já estavam em posse dos dois artistas há alguns meses. O que havia engatilhado esse pânico repentino? Oras, até então, os roubos haviam passado completamente despercebidos. Mas, agora, o Louvre e a polícia francesa estavam em alerta máximo: a Mona Lisa havia sido roubada. E as autoridades estavam loucas para achar um suspeito.
O roubo
Alguns dias antes dessa aventura de Picasso pelas ruas de Paris, o pintor francês Louis Béroud entrou no Louvre e se dirigiu ao Salon Carré, a sala onde ficava a Mona Lisa — ele estava criando uma obra inspirada nela. Mas o quadro de Da Vinci estava misteriosamente ausente da parede. “Onde está La Gioconda?”, perguntou ele ao segurança, um brigadeiro ancião (na época, todos os funcionários de chão do Louvre eram ex-militares). A resposta: “não sei”.
Até aí, poucas novidades. Era comum que quadros fossem retirados para serem fotografados e que os guias não fossem informados, uma bela bagunça. Béroud, então, parou para fumar um pouquinho e depois se dirigiu ao estúdio fotográfico do museu. “Onde está La Gioconda?”, voltou a perguntar. E os funcionários, já sentindo o B.O. chegando, não sabiam o que responder. Como assim onde estava ela?
A polícia foi alertada e a primeira análise logo concluiu: a Mona Lisa havia sido roubada. E pior: o crime havia acontecido dois dias antes e ninguém havia notado. O acontecido era um choque, mas não uma surpresa: a segurança do Louvre na época era famosa por ser incrivelmente frágil. Jornalistas tinham o costume de roubar itens e devolvê-los depois sem serem notados, e há uma história curiosa de um repórter que teria se enfiado num sarcófago para passar a noite escondido, sem ninguém desconfiar (e ninguém desconfiou).
Pelas características do roubo, a polícia concluiu que não se tratava de um ladrão aleatório: o responsável já havia andado bastante por aqueles corredores, talvez até trabalhado ali. A moldura de segurança do quadro, que havia sido recentemente instalada, tinha sido deixada para trás em uma escada acessível somente a funcionários.
Quem poderia ter roubado a Mona Lisa?
Fonte: Superinteressante
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