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Adoçantes artificiais não são heróis e nem vilões
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Adoçantes artificiais não são heróis e nem vilões

Publicado em 28 de dezembro de 2025 às 18:00

3 min de leitura

O texto abaixo foi publicado na Revista Questão de Ciência.

Sim, como vocês podem ver pelo título, hoje tratarei, mais uma vez, sobre adoçantes, um tema sobre o qual já publiquei, até o momento, oito artigos ao longo desses quatro anos, sendo possivelmente um dos meus assuntos favoritos; o que chega a ser irônico, já que, durante a graduação, nunca havia me interessado pelas evidências por trás dessas substâncias.

Em todas as ocasiões, sem exceção, apontei que os artigos que observavam efeitos deletérios — seja em relação a possíveis problemas cardiovasculares, declínio cognitivo ou perda de peso — apresentavam, além das limitações inerentes à área da nutrição (como a dificuldade de controlar o que cada participante irá consumir ao longo do tempo e de assegurar, com fidedignidade, que o desfecho encontrado é fruto da dieta ou do alimento estudado, e não de alguma outra covariável), o fato de que a metodologia empregada, geralmente do tipo observacional, não possibilitava atribuir causalidade, apenas correlação.

Obviamente, alguns contrapontos são possíveis. Por exemplo, embora estudos dessa natureza não consigam traçar causalidade, não seria viável ou ético conduzir RCTs para detectar riscos; outro apontamento que merece destaque é o de que não há unanimidade entre os estudos que encontram efeitos positivos ou negativos e que, partindo do princípio da precaução, deveríamos evitar essas substâncias até termos evidências mais concretas.

Ainda poderiam ser evocados os critérios de Bradford Hill, criados para avaliar agregados de resultados observacionais, a fim de gerar uma inferência razoável de causalidade.

Para quem não está familiarizado com esse nome, trata-se de um epidemiologista e estatístico importantíssimo por ter sido um dos pesquisadores que descobriram os efeitos nocivos do cigarro e que estipulou nove critérios que nos ajudam a, ao menos, tentar identificar quando uma associação pode ser interpretada como causalidade: força, consistência, especificidade, temporalidade, gradiente biológico (dose–resposta), plausibilidade, coerência, experimento e analogia.

Contudo, há um aspecto que considero de extrema relevância. À medida que RCTs bem conduzidos e sólidos metodologicamente são publicados e apresentam resultados contrários aos estudos observacionais, é preciso reconhecer que talvez, dadas suas características, eles estejam mais próximos do efeito real.

Dito isso, é possível que estejamos diante desse cenário. Acredito que a maioria de vocês deva recordar que, em 2023, a OMS publicou uma nova diretriz para fornecer orientações sobre o uso de adoçantes não calóricos (NSS) para formuladores de políticas, profissionais de saúde e outros especialistas.

Ao final daquele documento, após a organização avaliar um corpo considerável de evidências, tanto observacionais quanto provenientes de RCTs, chegou-se à seguinte recomendação condicional: “A OMS sugere que adoçantes não calóricos não devem ser utilizados para controle de peso nem para reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis”. Recomendações condicionais são orientações cuja implementação não está claramente associada a mais benefícios do que prejuízos ou, ainda, a situações em que os benefícios previstos são muito pequenos.

Agora, dois anos depois, um estudo publicado na Nature Metabolism, periódico do grupo Nature, desafia essa recomendação, embora algumas considerações importantes também precisem ser mencionadas.

O estudo

Antes de falarmos do estudo em si, vale mencionar que ele integra o SWEET (Sweeteners and Sweetness Enhancers: Prolonged Effects on Health, Obesity and Safety), um projeto financiado pelo programa Horizon 2020 da Comissão Europeia.

O projeto busca revisar e desenvolver evidências sobre os benefícios e riscos de longo prazo da substituição do açúcar por adoçantes no âmbito da saúde pública, segurança, obesidade e sustentabilidade.

Fonte: Superinteressante

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