
Como o DNA das moscas revela os animais escondidos em uma região
Publicado em 7 de setembro de 2025 às 12:00
2 min de leituraFonte: Superinteressante
Em uma fazenda em recuperação ambiental no interior de São Paulo, cientistas estão rastreando a presença de onças-pardas, antas e outros animais sem jamais vê-los. As pistas não estão em pegadas, câmeras ou armadilhas, mas em um lugar improvável: o estômago das moscas.
“Existem várias espécies de moscas no ambiente”, explica Osvaldo Stella, Chief Sustainability Officer (CSO) da Rizoma e executivo responsável por toda a parte de pesquisa da empresa. “Algumas se alimentam de sangue, outras de fezes e outras de carcaças de animais mortos”.
É assim que o material genético da fauna local vai parar no estômago das moscas, conta Stella para a Super. “A partir da análise genética do conteúdo do estômago das moscas, é possível identificar quais espécies estão presentes na área do projeto”.
Pesquisadores aplicaram uma técnica chamada iDNA (DNA ambiental recuperado de insetos) para investigar a fauna local. O princípio é simples, mas engenhoso. As moscas, ao se deliciarem do banquete mencionado acima, carregam em seus estômagos fragmentos de DNA que, mais tarde, podem ser extraídos e sequenciados em laboratório. A análise revela a lista de espécies que passaram pela região, como se cada inseto fosse um minúsculo sensor biológico.
Os resultados iniciais mostram que espécies emblemáticas da fauna brasileira, como a anta, primatas e a onça-parda, ainda ocupam fragmentos de floresta próximos às áreas agrícolas em restauração.
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“O uso das ferramentas moleculares no levantamento e monitoramento da biodiversidade é uma realidade mundial crescente, e os resultados obtidos comprovam a eficiência destas novas tecnologias, que vêm contribuir para o entendimento do papel destas áreas na conservação da fauna e de seus serviços ecossistêmicos”, diz Pedro Galetti, CEO do Instituto BioCGen, em comunicado.
A aposta é que as mosquinhas ajudem não apenas no monitoramento de projetos de restauração, mas também na avaliação do impacto de práticas agrícolas regenerativas.
Ainda há limites. Até agora, os cientistas conseguem apenas detectar a presença das espécies, não estimar a abundância. Para isso, combinam o método das moscas com armadilhas fotográficas.
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“Além da biotecnologia, que fornece informações qualitativas relevantes, é importante utilizar outros métodos complementares como as trap cams (câmeras fotográficas) para se ter também indicadores qualitativos das populações que habitam a região”, diz Stella.
O próximo passo é repetir os experimentos anualmente, em diferentes estações do ano, para capturar a dinâmica das populações. “As avaliações serão feitas anualmente, variando as épocas do ano para podermos ter um alcance maior considerando que algumas espécies podem estar na região em determinadas épocas do ano”, disse o especialista.
A fazenda faz parte de uma iniciativa agroflorestal do Grupo HEINEKEN e conta com a colaboração entre a Rizoma Agro e o Instituto de Pesquisa BioCGen.
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