
Há mesmo seis graus de separação entre você e o resto do mundo?
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 12:00
4 min de leituraEste texto foi originalmente publicado na Revista Questão de Ciência.
Em uma entrevista de 1994, o ator Kevin Bacon afirmou que tinha trabalhado com todo mundo em Hollywood – ou pelo menos com alguém que trabalhou com qualquer outro alguém. Ele ficou com pecha de pedante, e um trio de universitários aproveitou a deixa para criar um jogo de boteco chamado “seis graus de Kevin Bacon”. A missão é ligar um ator aleatório qualquer a Bacon, usando uma corrente de atores que aparecem juntos em filmes. Pode-se usar no máximo, é claro, seis filmes.
Essa é só uma das dezenas de manifestações pop da hipótese dos “seis graus de separação”: a ideia folclórica de que seu amigo tem um amigo que tem um amigo que tem um amigo que lhe permite alcançar qualquer pessoa no mundo, de um pescador na Groenlândia a Vladimir Putin. De acordo com a lenda, o número máximo de elos de que uma pessoa precisa para alcançar qualquer outra pessoa seria seis.
Em uma interpretação bastante literal, é fácil refutar a hipótese: ainda existem grupos indígenas caçadores-coletores isolados na Amazônia e na Papua-Nova Guiné, que só são conhecidos por imagens de satélite ou fotos de avião, e nunca tiveram contato com pessoas de fora da tribo. Sabe-se que alguns desses grupos volta e meia entram em guerra – e a interação com rivais que já viram gente de fora pode criar elos acidentais com o resto da civilização. Mas não se pode descartar que algumas dessas tribos realmente permaneçam desconectadas dos demais seres humanos.
Feita essa ressalva, existem sim alguns estudos com amostras razoavelmente grandes e representativas que se dedicaram a calcular o número médio (não o máximo) de conexões necessárias para ligar duas pessoas quaisquer. E esses estudos, veremos a seguir, obtêm valores entre quatro e sete. Ou seja: a ideia de que a maior parte de nós está conectada por correntes com menos de dez pessoas está correta, em linhas gerais. Mas o seis não é um número mágico: ele começou como um chute, fora do âmbito do método científico – que primeiro se espalhou pela esfera cultural e só depois foi posto à prova.
A origem da ideia
Tudo começou em 1929, com um autor húngaro obscuro chamado Frigyes Karinthy (1887-1938), pioneiro da ficção científica. Frigyes (esse é o sobrenome – em húngaro, a norma é grafá-lo antes do nome) é mais famoso por ter escrito uma fanfic baseada no clássico As Viagens de Gulliver. Nela, o marujo explorador do século 18 é atualizado e se torna um piloto de avião perdido na 1ª Guerra. Ele chega ao reino robótico de Faremido, onde todos os seres são feitos de materiais inorgânicos e se comunicam com música. Daí o nome do local, em que cada sílaba é uma nota.
Digressões à parte, a obra de Frigyes que nos interessa é um ensaio intitulado Correntes. Não encontramos uma tradução em português – há uma em inglês neste link. O tema do texto é a noção clichê de que o mundo, graças a meios de comunicação e transporte cada vez mais rápidos, está se tornando metaforicamente menor. (Isso, vindo de um homem que só conhecia o telefone e o telégrafo.)
Frigyes escreve: “Um de nós sugeriu realizar o seguinte experimento para provar que a população da Terra está mais próxima agora do que jamais esteve. Nós deveríamos selecionar qualquer pessoa dentre os 1,5 bilhão de habitantes da Terra – qualquer um, em qualquer lugar. Ele apostou conosco que, usando uma corrente com não mais do que cinco indivíduos, o primeiro dos quais fosse um conhecido, ele poderia contatar o indivíduo selecionado (…) Por exemplo: ‘Olha, você conhece o Sr. Fulano, peça a ele para contatar seu amigo Sicrano, que conhece Beltrano e assim por diante’.”
O autor húngaro, então, submete a hipótese a alguns testes anedóticos (como ligar si mesmo a um operário da Ford) e comenta que tal façanha seria impossível apenas 500 anos antes, quando os europeus sequer sabiam da existência de nativos americanos para que fosse possível encontrar uma rede de conexões viável entre a Europa e o território em que hoje ficam os EUA.
Que mundo pequeno!
Três décadas depois, um psicólogo americano tentaria realizar a ideia na prática. Stanley Milgram (1933-1984) é mais famoso por um experimento que realizou entre 1961 e 1963, no contexto do julgamento e execução do nazista Adolf Eichmann (1906-1962) em Israel. Curioso com a naturalidade com que o ex-oficial da SS falava sobre seu papel na organização do Holocausto, Milgram procurou determinar se pessoas cometem atos hediondos (no caso de sua simulação, aplicar choques elétricos letais) com mais facilidade quando estão recebendo ordens.
Fonte: Superinteressante
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