
Tomografia revela detalhes inéditos de fóssil de dicinodonte encontrado no Brasil
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 08:00
3 min de leituraHá 260 milhões de anos, no que hoje é o Pampa gaúcho, um Rastodon procurvidens morreu e ficou eternamente fossilizado no interior de uma rocha. Agora, graças a um “mergulho tecnológico” no interior de seu crânio, cientistas brasileiros estão desvendando os segredos deste herbívoro pré-histórico.
Utilizando tomografia computadorizada de alta resolução, uma equipe da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do Museu Nacional da UFRJ conseguiu reconstruir em 3D a anatomia interna desse dicinodonte, permitindo assim melhores análises da mandíbula e do céu da boca do bicho, algo inédito.
Esses animais eram sinapsídeos, ou seja, faziam parte da mesma linhagem que inclui os mamíferos. Os dicinodontes, no entanto, não eram mamíferos: integravam um ramo diferente e bastante diverso do grupo. Eram caracterizados principalmente pela presença de um “bico” desdentado e duas presas, normalmente voltadas para trás.
“O Rastodon estava literalmente com a boca fechada há mais de 250 milhões de anos. Com a micro-tomografia, conseguimos abri-la e revelar detalhes incríveis da sua história evolutiva”, destaca João Lucas da Silva, autor do estudo publicado no Zoological Journal of the Linnean Society.
Descrito pela primeira vez em 2016, o Rastodon logo se destacou entre seus parentes. Enquanto a maioria dos dicinodontes exibia presas voltadas para trás, o fóssil brasileiro apresentava dentes curvados para frente. Esse traço singular levantava dúvidas sobre seu modo de vida e sua posição na árvore evolutiva.
Mas, até agora, os detalhes de sua anatomia estavam escondidos na rocha. A digitalização em micro-tomografia permitiu aos cientistas enxergar dentro da cabeça do animal.
“A microtomografia não é uma ferramenta nova na análise de fósseis, mas vem se tornando cada vez mais acessível e com maior qualidade. Funciona de forma semelhante a um tomógrafo médico, usado em exames clínicos, e pode inclusive ser aplicada a fósseis de grande porte”, explica Voltaire Paes Neto, paleontólogo do Museu Nacional, que também participou do estudo.
–João L da Silva, Voltaire D P Neto, Christian F Kammerer, Julia L R de Souza, Bruno A Bulak, Marina B Soares, Tiago R Simões, Felipe L Pinheiro/Divulgação “No caso de fósseis de pequenos animais utilizamos o microtomógrafo, que gera imagens em altíssima resolução, permitindo observá-las em três dimensões”, conta ele para a Super. Assim, os cientistas conseguem reconstruir digitalmente os ossos e cavidades e conseguem isolar partes específicas, como a mandíbula do crânio.
Esse tipo de tecnologia ajuda a estudar fósseis frágeis e de difícil acesso, sem danificá-los. “É possível, por exemplo, isolar osso a osso, permitindo analisar cada um deles individualmente, algo que não seria possível no crânio completamente articulado, onde não se pode nem pensar em remover um osso”, contou João Lucas da Silva à Super.
A análise do Rastodon mostrou que o espécime era um jovem adulto e, assim como de costume na espécie, de pequeno porte.
Além disso, a pesquisa ajudou a reposicionar a espécie entre os dicinodontes que escavavam tocas no solo, uma adaptação crucial para sobreviver às condições extremas que precederam a maior extinção em massa da história: a crise Permo-Triássica, momento em que o Planeta passava pela formação do Pangeia.
Fonte: Superinteressante
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