
Inscrição em pedra revela missão do primeiro imperador da China em busca da imortalidade
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 18:00
2 min de leituraPor mais de dois milênios, uma pedra gravada permaneceu discreta às margens do lago Gyaring, a 4.300 metros de altitude no planalto tibetano, na China. Foi apenas em 2020 que o professor Hou Guangliang, da Universidade Normal de Qinghai, reconheceu sua importância: caracteres da antiga escrita chinesa xiaozhuan.
O texto mencionava uma expedição ordenada pelo imperador Qin Shi Huang (259–210 a.C.), conhecido por unificar a China. Os registros, entretanto, discutem outra de suas obsessões: a busca pelo elixir da vida eterna.
No início, a descoberta não atraiu grande atenção. O local, próximo à nascente do rio Amarelo e a mais de 1.400 quilômetros da capital imperial da época, parecia improvável para uma missão oficial do século 3 a.C. Relatos locais indicam que a inscrição já havia sido vista por pastores em 1986, mas só em 2020 foi registrada academicamente.
Ainda assim, especialistas suspeitaram que se tratasse de uma marca posterior, talvez do período Qing (século 17–19), quando também houve expedições imperiais à região.
O debate ganhou força em junho deste ano, quando o arqueólogo Tong Tao, do Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, publicou os primeiros resultados sobre a inscrição.
A notícia repercutiu rapidamente, mas levantou dúvidas. Seria possível que homens da dinastia Qin, há mais de dois mil anos, tivessem chegado de carruagem a uma altitude tão extrema?
As incertezas levaram a Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China a organizar uma equipe multidisciplinar. Pesquisadores visitaram o local duas vezes, em junho e julho, para coletar dados sobre a pedra, o ambiente ao redor e as técnicas de gravação. Também promoveram seminários com especialistas de várias áreas.
O resultado foi anunciado em setembro: a inscrição é autêntica. O texto, com 36 caracteres distribuídos em 12 linhas, registra que “o imperador ordenou que o grande mestre Yi conduzisse um grupo de alquimistas até o monte Kunlun para coletar yao”.
O termo yao pode significar ervas, minerais ou animais medicinais, mas também é usado em referência ao elixir da imortalidade. O documento ainda detalha que a comitiva chegou ao lago no terceiro mês do 37º ano de reinado de Qin Shi Huang – o equivalente a 210 a.C.
Fotografia da inscrição.Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China/Divulgação Segundo Zhao Chao, arqueólogo da Academia Chinesa de Ciências Sociais que participou da investigação, a inscrição “é o único registro conhecido da dinastia Qin que sobreviveu em seu local original”. Ele afirmou à agência de notícias estatal Xinhua que o estudo aplicou métodos sistemáticos de datação e análise mineral, inaugurando “um novo modelo para autenticação de inscrições em pedra na China”.
As análises revelaram que as incisões da gravação foram feitas com uma ferramenta de corte de lâmina reta, técnica compatível com a tecnologia da época. Amostras minerais indicaram desgaste natural acumulado por séculos, impossibilitando a hipótese de falsificação recente. O tipo de rocha, arenito quartzoso, resiste fortemente à erosão, e o microclima da região ajudou a preservar os caracteres.
Fonte: Superinteressante
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