
Múmias mais antigas do mundo são descobertas – e elas não são egípcias
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 18:00
3 min de leituraMuito antes de os egípcios desenvolverem as sofisticadas técnicas de embalsamamento que fascinam o mundo até hoje, povos caçadores-coletores do sul da China e do Sudeste Asiático já preservavam seus mortos.
Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mostra que práticas de mumificação por defumação começaram há pelo menos 12 mil anos – cerca de 7 mil anos antes das múmias egípcias mais antigas.
Os pesquisadores analisaram restos humanos encontrados em 95 sítios arqueológicos na China, Vietnã, Laos, Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas. Em muitos sepultamentos, os esqueletos estavam em posição agachada, com os membros rigidamente dobrados em ângulos que não seriam possíveis após a decomposição natural. Além disso, ossos apresentavam manchas escuras e sinais de aquecimento prolongado, mas não de cremação.
Para confirmar a hipótese, a equipe utilizou duas técnicas de laboratório. A difração de raios X, um método não destrutivo que permite investigar a microestrutura interna de um material, e a espectroscopia de infravermelho, capaz de detectar alterações químicas nos ossos.
Em 54 indivíduos analisados em detalhe, cerca de 84% apresentaram mudanças moleculares compatíveis com exposição a calor de baixa intensidade por longos períodos.
“Os resultados revelam uma interação única de técnica, tradição, cultura e crença das culturas pré-neolíticas do sul da China e do Sudeste Asiático”, disse à CNN o arqueólogo Hsiao-chun Hung, da Universidade Nacional Australiana, que liderou o estudo.
Exemplos de sepultamentos flexionados do norte do Vietnã.Hsiao-chun Hunga/Zhenhua Dengb/Yiheng Liub/Zhiyu Ranb/Yue Zhanga/Zhen Lid/Yousuke Kaifue/Qiang Huangf/Khanh Trung Kien Nguyeng/Hai Dang Leh/Guangmao Xied/Anh Tuan Nguyenh/Mariko Yamagataj/Truman Simanjuntakk/Sofwan Noerwidil/Mohammad Ruly Fauzil/Marlin Tollal/Alpius Wetipom/Gang Hen/Junmei Sawadao/Chi Zhangc/Peter Bellwoodp/Hirofumi Matsumuraq/Divulgação Segundo os pesquisadores, os corpos eram amarrados em posição fetal e expostos à fumaça de fogueiras de baixa temperatura durante meses. O calor suave e a fumaça retiravam a umidade dos tecidos e retardavam a decomposição. Depois desse processo, que poderia durar até três meses, os corpos eram enterrados em cavernas, abrigos rochosos ou sambaquis.
Embora nesses achados só restem ossos, sem pele ou tecidos moles preservados, os cientistas consideram os indivíduos como múmias porque a intenção de preservação era clara.
“A principal diferença em relação às múmias que normalmente imaginamos é que esses corpos defumados antigos não eram selados em recipientes após o processo e, portanto, sua preservação geralmente durava apenas algumas décadas a algumas centenas de anos”, explicou Hung ao Live Science.
Esse tipo de ritual encontra paralelos em práticas observadas em povos indígenas australianos e ainda é realizado em algumas regiões da Papua, na Indonésia. Em 2019, a equipe acompanhou comunidades Dani e Pumo que continuam a produzir múmias de ancestrais com métodos muito semelhantes: corpos amarrados, colocados sobre fogueiras e lentamente enegrecidos pela fumaça.
Exemplos de múmias defumadas mantidas em residências particulares em Papua, Indonésia, fotografadas em janeiro de 2019Hsiao-chun Hunga/Zhenhua Dengb/Yiheng Liub/Zhiyu Ranb/Yue Zhanga/Zhen Lid/Yousuke Kaifue/Qiang Huangf/Khanh Trung Kien Nguyeng/Hai Dang Leh/Guangmao Xied/Anh Tuan Nguyenh/Mariko Yamagataj/Truman Simanjuntakk/Sofwan Noerwidil/Mohammad Ruly Fauzil/Marlin Tollal/Alpius Wetipom/Gang Hen/Junmei Sawadao/Chi Zhangc/Peter Bellwoodp/Hirofumi Matsumuraq/Divulgação Os pesquisadores afirmam que, além da defumação ter uma função prática de retardar a decomposição, também carregava significados espirituais, religiosos e culturais. “Acreditamos que a tradição reflete um impulso humano atemporal – a esperança duradoura, desde os tempos antigos até o presente, de que famílias e entes queridos possam permanecer ‘juntos’ para sempre”, acrescentou Hung à CNN.
Fonte: Superinteressante
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