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O cinturão de asteroides está encolhendo – e isso pode afetar a Terra
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O cinturão de asteroides está encolhendo – e isso pode afetar a Terra

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 14:00

3 min de leitura

O cinturão de asteroides, situado entre as órbitas de Marte e Júpiter, costuma ser lembrado como uma faixa estável de rochas que gira em torno do Sol há bilhões de anos. Mas uma nova pesquisa conduzida pelo astrônomo Julio Fernández, da Universidade da República no Uruguai, mostra que essa visão precisa ser revista.

O cinturão é formado por milhões de fragmentos, que variam de grãos de poeira a corpos com centenas de quilômetros de diâmetro. Sua origem remonta a 4,6 bilhões de anos, quando o Sistema Solar estava em formação e o material dessa região tinha potencial para dar origem a um planeta.

A presença de Júpiter, no entanto, impediu que isso acontecesse. A força gravitacional do maior planeta do sistema solar perturbou a região de tal maneira que, em vez de se fundirem, os blocos de rocha se chocavam e se fragmentavam. O resultado é a coleção dispersa de asteroides que conhecemos hoje, cuja massa equivale a apenas 3% da Lua.

Fernández calculou a taxa de perda de massa do cinturão e constatou que ela chega a 0,0088% da porção ativa a cada milhão de anos. À primeira vista, o número parece insignificante, mas, em escalas de bilhões de anos, essa taxa representa uma erosão constante e relevante.

Desse total, cerca de 20% escapa na forma de corpos maiores, que podem cruzar órbitas planetárias, incluindo a da Terra, e 80% se transforma em poeira microscópica. Essa poeira é resultado das colisões incessantes entre asteroides e é lentamente arrastada para fora da região pela radiação solar.

Uma parte se perde no espaço, outra acaba espiralando em direção ao Sol. Ela é responsável pelo brilho tênue da luz zodiacal, que pode ser observada em noites escuras como um clarão difuso no horizonte, logo após o pôr do sol ou antes do amanhecer.

O mecanismo que alimenta essa perda envolve principalmente as chamadas ressonâncias gravitacionais. Trata-se de regiões em que a órbita de um asteroide entra em sincronia com a de Júpiter, Saturno ou até mesmo Marte, o que desestabiliza seu movimento.

Ao cair em uma dessas regiões caóticas, um corpo pode ser desviado para o Sistema Solar interno ou lançado em direção a Júpiter, que funciona como uma espécie de aspirador gravitacional. Quando não são ejetados, os asteroides colidem uns com os outros e se reduzem progressivamente até se tornarem partículas de poeira.

O estudo, que ainda não foi revisado por outros pesquisadores e publicado em uma revista científica, excluiu da análise os maiores corpos do cinturão, como Ceres, Vesta e Pallas, porque eles já sobreviveram a bilhões de anos sem serem destruídos e não participam do processo contínuo de fragmentação. A atenção se volta para a população intermediária e menor, que é justamente a mais sujeita a colisões e instabilidades orbitais. Esse conjunto forma um reservatório dinâmico de fragmentos que podem, em determinados momentos, alcançar a órbita da Terra e gerar impactos.

A pesquisa também faz uma ponte com o registro geológico da Terra e da Lua. Se a taxa de perda atual for projetada para trás no tempo, o cinturão teria sido cerca de 50% mais massivo há 3,5 bilhões de anos e sua taxa de perda de massa seria o dobro da atual.

Esse período coincide com uma fase conhecida por apresentar um bombardeio muito mais intenso de asteroides, documentado tanto nas crateras lunares como nas camadas terrestres que preservam esferas de vidro originadas em impactos. Essas camadas, estudadas por geólogos, indicam que choques de grandes proporções eram dezenas de vezes mais frequentes naquele tempo do que hoje.

Fonte: Superinteressante

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