
O Prêmio Nobel já foi entregue a descobertas falsas. Duas vezes.
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 19:00
2 min de leituraNo início do século 20, já se sabia que o câncer era mais comum entre profissionais como radiologistas, limpadores de chaminé e trabalhadores que manuseavam produtos químicos. Mas a origem da doença ainda era um mistério.
Foi um alívio quando se descobriu que alguns tipos de câncer eram causados por… um verme. Esse foi o achado que rendeu ao patologista Johannes Fibiger o Nobel de Medicina de 1926. O tal verme era o Spiroptera carcinoma, hoje chamado de Gongylonema neoplasticum.
Fibiger chegou a essa conclusão por meio de experimentos em ratos. Após alimentá-los com baratas infectadas pelas larvas do “carcinoma”, ele observou que a maioria deles desenvolveu câncer de estômago. Fazia sentido estabelecer uma relação de causa e consequência, certo?
Errado. Hoje, sabemos que o câncer ocorre quando as células se dividem de modo desenfreado. As mutações responsáveis por esse desarranjo podem acontecer por uma série de fatores – como a exposição prolongada a certos elementos químicos e à radiação, caso daquelas profissões associadas à doença.
Na primeira metade do século passado, porém, mal conhecíamos nosso código genético. Fibiger errou na causa da doença – e até na doença em si. Anos depois, descobriu-se que os seus ratinhos não haviam desenvolvido câncer, e sim lesões no estômago por falta de vitamina A.
Mas o prêmio ficou com ele – ainda que outros pesquisadores tenham trilhado caminhos melhores. Na mesma época, o japonês Yamagiwa Katsusaburō pintou a pele de coelhos com alcatrão de carvão e os animais desenvolveram câncer após algumas semanas. O composto foi uma das primeiras substâncias cancerígenas confirmadas. Katsusaburō foi indicado ao Nobel sete vezes, mas nunca ganhou.
O maior escândalo do Nobel
A Fundação Alfred Nobel, responsável pelo prêmio, pisou na bola uma segunda vez em 1949 ao dar a medalha de Medicina para António Egas Moniz pelo uso da lobotomia para o tratamento de psicoses. Essa cirurgia, feita no lóbulo pré-frontal do cérebro, parecia mitigar os sintomas de condições psiquiátricas, como esquizofrenia e bipolaridade. No entanto, ela também alterava a personalidade e o intelecto dos pacientes, deixando-os extremamente apáticos – e, às vezes, sem algumas funções motoras.
A lobotomia foi popular entre as décadas de 1940 e 1950. Nos EUA, 50 mil pessoas passaram pela cirurgia; no Brasil, foram mil pacientes. Um dos casos mais emblemáticos é o de Rosemary Kennedy, irmã do ex-presidente americano John F. Kennedy. Ela fez uma lobotomia aos 23 anos, a mando do pai. Após a cirurgia, não conseguiu mais falar ou mover os membros.
A prática é considerada brutal e antiética. Com o surgimento dos medicamentos psiquiátricos na década de 1950, a lobotomia foi proibida em diversos países.
Esses erros servem como lembrete de um dos pilares do pensamento científico: com novas evidências convincentes, qualquer teoria ou prática médica pode ser refutada – até mesmo as vencedoras do Nobel.
Fonte: Superinteressante
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