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Quando os gatos foram domesticados? Novos estudos indicam que foi mais tarde do que se imaginava
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Quando os gatos foram domesticados? Novos estudos indicam que foi mais tarde do que se imaginava

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 16:00

3 min de leitura

Durante décadas, a história da domesticação dos gatos parecia relativamente bem resolvida. A versão mais aceita pelos historiadores dizia que a convivência entre humanos e felinos começou há cerca de 9.500 anos na região do Levante, que hoje abrange partes do Oriente Médio e do Mediterrâneo oriental.

Ali, no início do Neolítico, a agricultura teria criado um ambiente ideal para essa aproximação: os estoques de grãos atraíam roedores; os roedores atraíam gatos selvagens; e os humanos passaram a tolerar, e depois a favorecer, a presença desses caçadores eficientes. O sepultamento de um humano ao lado de um gato no Chipre, datado desse período, tornou-se o principal símbolo dessa versão.

Um conjunto de novos estudos baseados em DNA antigo, porém, está desmontando essa narrativa aparentemente linear. Ao analisar genomas de gatos encontrados em sítios arqueológicos da Europa, do Oriente Médio, da Ásia e do Norte da África, pesquisadores concluíram que os gatos domésticos modernos surgiram muito mais tarde do que se imaginava – e seguiram caminhos bem mais complexos até chegar às nossas casas.

O primeiro desses trabalhos, publicado na revista Science, concentrou-se na Europa. Os pesquisadores analisaram 87 genomas de gatos antigos e modernos, cobrindo um intervalo de cerca de 11 mil anos.

O resultado principal é que o gato doméstico moderno, conhecido cientificamente como Felis catus, não se originou no Levante, mas no Norte da África. Seus ancestrais diretos são populações de gato-selvagem-africano (Felis lybica lybica), e não os gatos selvagens europeus.

Mais do que isso, o estudo indica que os gatos com características genéticas típicas dos felinos domésticos atuais só chegaram à Europa há cerca de 2.000 anos. Ou seja, eles não acompanharam os primeiros agricultores neolíticos, como sugeriam estudos anteriores baseados sobretudo em análise de DNA mitocondrial.

Em vez disso, a dispersão parece ter ocorrido bem mais tarde, coincidindo com a expansão do Império Romano, período marcado por intensas redes de comércio, transporte marítimo e circulação de mercadorias.

Antes disso, a Europa já tinha seus próprios felinos. Registros genéticos mostram que, até cerca de 200 a.C., os gatos encontrados em sítios arqueológicos europeus pertenciam majoritariamente à espécie Felis silvestris, o gato-selvagem-europeu. Do ponto de vista dos ossos, essas populações são difíceis de distinguir dos gatos domésticos, porque o tamanho e a morfologia se sobrepõem. Geneticamente, porém, tratava-se de outra linhagem.

Esses gatos selvagens europeus provavelmente mantiveram algum tipo de relação com humanos. Em certos contextos, podem ter sido caçados por sua pele ou carne; em outros, podem ter tido papéis simbólicos ou rituais.

Os autores do estudo citam, por exemplo, restos de gatos da Idade do Bronze encontrados em Partanna, na Sicília, depositados dentro de um vaso cerâmico, e uma cabeça de felino em argila encontrada na Bulgária da Idade do Cobre. Ainda assim, os dados indicam que essa linhagem não deu origem aos gatos domésticos modernos, nem foi responsável por sua disseminação.

A análise também revelou um caso particular no Mediterrâneo. Na ilha da Sardenha, os pesquisadores identificaram uma população distinta de gatos, geneticamente diferente tanto dos gatos domésticos modernos quanto dos gatos selvagens europeus.

Fonte: Superinteressante

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