
Quem inventou o mouse do computador? A história do periférico que mudou a computação
Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 14:35
4 min de leituraUm bloco de madeira de mogno de 7x10x8 centímetros, com duas rodas perpendiculares de metal na base e um único botão no topo. Um cabo saindo da parte traseira, parecendo uma cauda. Alguém no laboratório olhou aquilo e disse: “parece um mouse (rato)”. O nome pegou. Era o outono de 1964 no Stanford Research Institute, e Bill English acabara de construir o primeiro protótipo funcional de uma ideia que Douglas Engelbart tinha esboçado no papel um ano antes.
Engelbart não inventou apenas um periférico. Ele inventou uma nova forma de conversar com máquinas. E em 9 de dezembro de 1968, numa tarde nublada e ventosa de segunda-feira em San Francisco, ele mostrou ao mundo o que aquilo significava.
A mãe de todas as demonstrações
Mais de 2 mil engenheiros de computação lotaram o Civic Auditorium. Os pôsteres da Fall Joint Computer Conference tinham gerado um burburinho, a reputação de Engelbart fez os organizadores procurarem um espaço maior para a apresentação. De camisa branca de manga curta e gravata fina escura, Engelbart sentou-se à direita do palco, diante de um console Herman Miller especialmente projetado. Atrás dele, uma tela de seis metros projetava o terminal de seu computador.
Durante 90 minutos, a plateia assistiu em silêncio quase religioso. Engelbart editou documentos em tempo real com um colega que estava em Menlo Park, a 50 quilômetros de distância, conversando por vídeo e áudio. Criou hiperlinks. Inseriu elementos visuais. Moveu o cursor pela tela com aquele bloco de madeira com cauda. Cada tecla digitada, cada movimento do mouse em San Francisco era instantaneamente transmitido ao mainframe SDS940 no laboratório e projetado de volta ao auditório, praticamente sem atraso, numa era pré-internet.
Havia céticos. Muitos achavam que era um truque, uma encenação. Engelbart convidou qualquer interessado a visitar o laboratório depois. Quando terminou, agradeceu sua equipe de 17 pessoas e pediu desculpas à esposa e filha pela dedicação obsessiva ao trabalho. A plateia explodiu em ovação de pé que durou minutos. Aquele momento, batizado retrospectivamente como “The Mother of All Demos”, mudou tudo.
O visionário por trás do periférico
Douglas Engelbart nasceu em Portland, Oregon, em 30 de janeiro de 1925. Seu pai era engenheiro elétrico e mantinha uma loja na cidade, enquanto o avô trabalhava em usinas hidrelétricas e levava a família em visitas técnicas às instalações. Mas a origem da missão de Engelbart estava em outro lugar: num artigo visionário que Vannevar Bush publicou na The Atlantic em julho de 1945, chamado “As We May Think”.
Bush descrevia o Memex, um dispositivo hipotético, uma mesa com visor de microfilme ajustável onde uma pessoa armazenaria livros, registros e comunicações, consultáveis com velocidade excepcional. Não era apenas uma máquina de cálculo, mas um amplificador da memória e do pensamento humano. Engelbart absorveu aquela ideia e a transformou em vida: ele não queria que computadores substituíssem humanos, queria amplificar a capacidade intelectual das pessoas para lidar com problemas complexos e urgentes.
A criação do mouse e o NLS
Em 1963, durante uma palestra em uma conferência, Engelbart concebeu o mouse. Ele precisava de algo rápido, preciso, do tamanho de uma mão, as setas do teclado eram lentas demais. Bill English, chefe de engenharia do laboratório de Engelbart, construiu o primeiro protótipo no outono de 1964: um bloco de madeira com duas rodas finas como lâminas de faca, posicionadas perpendicularmente, e um único botão, não por decisão de design, mas porque só cabia um microswitch ali dentro
A patente foi solicitada em 1967 e concedida em 17 de novembro de 1970, registrada como “X-Y Position Indicator for a Display System” (indicador de posição X-Y para sistema de exibição), sob o número 3.541.541. Engelbart nunca recebeu royalties. O SRI detinha a patente, que expirou antes do mouse se tornar popular em computadores pessoais.
O mouse era apenas uma peça de um sistema muito maior chamado oN-Line System (NLS), desenvolvido ao longo de seis anos com financiamento da NASA e da ARPA. O NLS incluía janelas múltiplas, hipertexto, software colaborativo em tempo real e hipermídia — vinculação de textos, imagens, vídeo e áudio em um único documento. Em 1967, o laboratório de Engelbart se tornou o segundo nó da ARPANET, precursora da internet
Do laboratório ao mercado
Engelbart criou o mouse, mas o periférico se popularizou por meio de outras empresas. Em 1971, Bill English deixou o SRI e se juntou ao Xerox PARC, onde desenvolveu o mouse com bola, substituindo as rodas do design original. A Xerox teve a chance de comercializar o primeiro computador pessoal com mouse, mas não soube aproveitar o timing.
Fonte: Hardware.com.br
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Texto Luiza Lopes | Design e fotos Juliana Krauss | Edição Rafael Battaglia
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