
Temperatura do ninho pode afetar a “inteligência” das tartarugas? Novo estudo descobriu
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 18:00
3 min de leituraÀ medida que o aquecimento global eleva as temperaturas das praias, pesquisadores buscam entender como o calor da areia – que abriga os ovos das tartarugas marinhas – influencia não apenas o nascimento, mas também o desenvolvimento físico e mental desses animais.
Um novo estudo da Universidade Atlântica da Flórida (FAU), publicado na revista Endangered Species Research, investigou se a temperatura de incubação dos ovos de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) poderia afetar a capacidade cognitiva dos filhotes – ou, em termos simples, sua “inteligência”.
O trabalho, liderado pelos pesquisadores Ivana Lezcano e Sarah Milton, é o primeiro a testar experimentalmente se o calor do ninho interfere na habilidade das tartarugas de aprender, se adaptar e resolver problemas. Estudos anteriores já haviam mostrado que ninhos mais quentes distorcem a proporção sexual (produzindo mais fêmeas), reduzem o sucesso de eclosão e aumentam deformidades físicas. A dúvida era se esse calor também afetaria o cérebro.
Entre 2019 e 2020, os pesquisadores coletaram ovos em praias do Condado de Palm Beach, no sul da Flórida (EUA), e os incubaram em laboratório a duas temperaturas: 31°C, considerada ideal para o desenvolvimento de fêmeas, e 33°C, um valor mais alto, mas ainda não letal. Após a eclosão, os filhotes foram levados ao laboratório marinho da FAU, onde, por quatro a cinco semanas, foram alimentados e monitorados.
Para testar a cognição, os cientistas submeteram as tartarugas a um labirinto em forma de Y, um tipo de teste clássico de aprendizagem animal. Nessa estrutura, os filhotes deveriam associar uma recompensa alimentar (um pequeno pedaço de comida) a um padrão visual, como listras ou um alvo.
Depois de aprender essa associação, o padrão premiado era trocado – o chamado “treinamento reverso” –, exigindo que os animais abandonassem a regra anterior e aprendessem uma nova. Essa etapa avaliava a flexibilidade comportamental, isto é, a capacidade de adaptar-se a mudanças.
Os resultados surpreenderam os próprios pesquisadores. Em ambos os anos, não houve diferença significativa na capacidade de aprendizagem entre os grupos incubados a 31°C e 33°C. Todas as tartarugas foram capazes de completar as tarefas de aquisição e reversão, e, em 2020, chegaram a aprender a nova regra mais rapidamente do que a original.
“Os filhotes não só foram capazes de suprimir comportamentos previamente aprendidos para formar novas associações mais vantajosas, como também conseguiram fazê-lo com uma velocidade notável – muitas vezes exigindo menos tentativas do que a fase inicial de aprendizagem”, disse Milton, professora e presidente do Departamento de Ciências Biológicas da FAU, em comunicado.
“Esse nível surpreendente de flexibilidade comportamental sugere que essas tartarugas jovens podem estar mais bem equipadas para lidar com desafios ambientais em rápida mudança do que pensávamos anteriormente”, acrescentou.
Em outras palavras, o calor não pareceu comprometer o aprendizado ou a memória de curto prazo – algo inesperado, já que, em outros répteis, como lagartos e gecos, temperaturas elevadas durante a incubação costumam reduzir o desempenho cognitivo.
Se, do ponto de vista cognitivo, o estudo trouxe um sopro de otimismo, os efeitos físicos do calor continuaram negativos. O grupo incubado a 33°C teve menor taxa de eclosão (43,8% em 2019 e 26,6% em 2020, contra 71,9% e 75% no grupo de 31°C) e produziu filhotes menores, com crescimento mais lento e mais deformidades nas placas do casco.
Fonte: Superinteressante
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