
YouTube está priorizando vídeos de IA para novos usuários, revela estudo
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 16:00
3 min de leituraUm estudo recente revelou que o algoritmo do YouTube e vídeos de IA estão profundamente conectados na experiência de novos usuários da plataforma. A pesquisa, conduzida pela Kapwing, empresa de edição de vídeo, mostra que mais de 20% do conteúdo recomendado para contas recém-criadas consiste em materiais de baixa qualidade gerados por inteligência artificial.
Esses vídeos, frequentemente referidos como “lixo de IA”, não representam apenas uma questão de experiência do usuário, mas também um negócio extremamente lucrativo. A indústria de conteúdo automatizado na plataforma gera receitas publicitárias estimadas em US$ 117 milhões anuais (aproximadamente R$ 652 milhões), mesmo após o YouTube ter implementado mudanças em sua política de monetização em julho de 2023 para tentar coibir essa prática.
Para dimensionar o fenômeno, a Kapwing analisou os 15 mil canais mais populares do YouTube, filtrando os 100 principais de cada país. O levantamento identificou 278 perfis dedicados exclusivamente à produção automatizada de conteúdo em massa com baixo investimento e alto volume de publicações.
Esses canais acumulam um número impressionante de 63 bilhões de visualizações e contam com 221 milhões de inscritos — números que ultrapassam significativamente muitos criadores de conteúdo original na plataforma.
A máquina de dinheiro por trás dos vídeos automatizados
Para entender melhor o impacto desse fenômeno, os pesquisadores simularam a experiência de um novo usuário na plataforma. O resultado foi alarmante: 104 dos primeiros 500 vídeos recomendados eram produções de IA de baixa qualidade, confirmando a tendência de priorização desse tipo de conteúdo pelo algoritmo.
O modelo de negócio desses canais é bastante sofisticado. De acordo com reportagem do The Guardian, existe um ecossistema ativo em fóruns e aplicativos como Telegram e Discord onde grupos compartilham estratégias sobre nichos lucrativos. Os temas mais explorados variam de simulações de desastres naturais a vídeos sensacionalistas como explosões de eletrodomésticos.
A estratégia é simples e eficaz: os produtores utilizam ferramentas de IA para criar dezenas de variações sobre o mesmo tema e as publicam simultaneamente. O algoritmo do YouTube, programado para detectar padrões de engajamento, acaba promovendo as versões que geram mais cliques, permitindo que os criadores repliquem os formatos bem-sucedidos em escala industrial.
O fenômeno tem alcance global. Na Espanha, aproximadamente 20 milhões de pessoas (quase metade da população) seguem canais de IA populares. No Brasil, o impacto também é considerável, com 13,5 milhões de inscritos consumindo esse tipo de conteúdo regularmente.
A barreira idiomática praticamente não existe, já que a maioria desses vídeos utiliza elementos visuais exagerados e narrações sintéticas que são facilmente traduzíveis ou dispensam compreensão verbal, tornando-os acessíveis a audiências globais.
Entre os casos de sucesso financeiro, destaca-se o canal indiano Bandar Apna Dost, que acumula 2,4 bilhões de visualizações com animações surreais e fatura aproximadamente US$ 4,25 milhões por ano (R$ 23,7 milhões). Outro exemplo é o Pouty Frenchie, de Singapura, voltado ao público infantil com histórias de animais em cenários psicodélicos, também gerando receitas milionárias.
O canal The AI World representa outro nicho lucrativo, utilizando imagens geradas por IA para representar inundações e desastres reais, acumulando 1,3 bilhão de visualizações.
Posicionamento oficial da plataforma
Em resposta às descobertas do estudo, um porta-voz do YouTube declarou que a IA generativa é uma ferramenta neutra, que pode ser empregada tanto para criações legítimas quanto para produções de qualidade questionável.
A empresa reforçou que seu compromisso permanece em conectar os usuários a conteúdos de alta qualidade e que todo material publicado deve seguir as diretrizes da comunidade. “Se constatarmos que algum conteúdo viola uma política, nós o removemos”, afirmou a plataforma em comunicado oficial.
Fonte: Hardware.com.br
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