
Mudança química dos oceanos pode deixar tubarões banguelas
Publicado em 30 de agosto de 2025 às 18:00
3 min de leituraFonte: Superinteressante
Mudança química dos oceanos pode deixar tubarões banguelas Um novo estudo mostrou que a acidificação dos oceanos pode fragilizar o dente desses predadores. Tubarões sem dentes até podem parecer uma boa notícia para surfistas ou uma piada de filme de comédia – e definitivamente um de horror para os próprios tubarões. Um novo estudo sugere que esse cenário pode se tornar realidade, e é tudo resultado das mudanças climáticas que alteram a química dos oceanos. Pesquisadores da Universidade Heinrich Heine, na Alemanha, descobriram que a acidificação marinha, impulsionada pela absorção crescente de dióxido de carbono, está corroendo os dentes de tubarões e pode comprometer sua capacidade de se alimentar. O ciclo funciona mais ou menos assim: à medida que as emissões de carbono aumentam, os oceanos absorvem mais dióxido de carbono da atmosfera. Por consequência, os níveis de pH caem e a água do mar fica mais ácida. O estudo, publicado recentemente na Frontiers in Marine Science, alerta para efeitos em cadeia que podem ameaçar populações desses predadores e a estabilidade dos ecossistemas marinhos. “Como se sabe que a acidificação dos oceanos danifica estruturas calcificadas como corais e conchas, queríamos investigar se os dentes de tubarão também poderiam ser vulneráveis, especialmente em espécies que nadam com a boca aberta para ventilar as guelras e têm exposição constante à água do mar”, disse Maximilian Baum, biólogo da Universidade Heinrich Heine em Düsseldorf, para a CNN. Em experimentos de laboratório, cientistas colocaram 600 dentes de tubarão-galha-preta em tanques simulando condições atuais de pH — cerca de 8,1 — e projeções para o ano 2300, com pH 7,3. Após oito semanas, os dentes expostos à água mais ácida apresentaram o dobro do desgaste, incluindo corrosão das raízes e alterações nas serrilhas. Sebastian Fraune, chefe do Instituto de Zoologia e Interações Organísmicas da Universidade Heinrich Heine, disse que foi possível observar “danos superficiais visíveis, como rachaduras e buracos, aumento da corrosão radicular e degradação estrutural”, em comunicado. “Muitas espécies de tubarão usam várias fileiras de dentes ao mesmo tempo, e dentes individuais podem permanecer em uso por semanas ou até meses, então danos cumulativos podem reduzir a eficiência da alimentação e aumentar a demanda de energia, especialmente em espécies com ciclos de substituição mais lentos e muitas fileiras de dentes que são usadas ao mesmo tempo”, explicou Baum à CNN. De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, o pH das águas superficiais do oceano (a camada superior de água no oceano) caiu 0,1 unidade de pH desde que a revolução industrial começou (há mais de dois séculos). Apesar do estudo contar com limitações, como a projeção feita para 2300 e a análise de apenas dentes descartados, os autores afirmam que as descobertas mostram os efeitos e os perigos da acidificação do oceano. “Em tubarões vivos, a situação pode ser mais complexa. Eles poderiam potencialmente remineralizar ou substituir dentes danificados mais rapidamente, mas os custos energéticos disso seriam provavelmente maiores em águas acidificadas”, explicou Fraune em comunicado. “Nosso estudo se concentrou em dentes que se perdem naturalmente porque atualmente há muito poucos dados sobre esse tópico. Ao isolar os efeitos químicos da água do mar acidificada na própria estrutura mineralizada, queremos fornecer uma base para a compreensão da vulnerabilidade dos dentes de tubarão”, disse Baum ao jornal americano. A descoberta soma-se a evidências de que a acidificação prejudica organismos marinhos de diferentes formas: dissolvendo conchas, enfraquecendo corais e alterando dentículos — pequenas escamas dentadas — na pele dos próprios tubarões. Combinados a fatores já críticos, como a sobrepesca e a escassez de presas, os efeitos da acidificação soam um alarme adicional. “É um lembrete de que os impactos das mudanças climáticas repercutem em cadeias alimentares e ecossistemas inteiros”, concluiu Baum em comunicado.
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