
Jovem de 17 anos acumula mais de 40 medalhas em olimpíadas científicas: “Quero inspirar as meninas”
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 08:00
5 min de leituraFonte: Superinteressante
Jovem de 17 anos acumula mais de 40 medalhas em olimpíadas científicas: “Quero inspirar as meninas” Estudante do Ensino Médio em São Paulo, Marcela Kuriyama concilia rotina intensa de estudos com competições acadêmicas. As olimpíadas científicas e acadêmicas se tornaram, nos últimos anos, um dos grandes fenômenos educacionais no Brasil. Elas mobilizam escolas públicas e privadas, universidades, professores e famílias em torno de provas que servem como exercícios de raciocínio lógico, criatividade e resiliência. Neste ano, por exemplo, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), maior competição científica do país, contou com a participação de 18,6 milhões de estudantes. Foram 57.222 escolas em 5.566 municípios, abrangendo 99,93% das cidades brasileiras. É em meio a competições como essa que Marcela Sayumi Alves Kuriyama, de 17 anos, construiu uma trajetória cheia de láureas. Aluna do Marista Arquidiocesano, colégio particular em São Paulo, ela acumula mais de 40 medalhas conquistadas ao longo de sete anos em disputas de conhecimento variadas. Só neste ano, conseguiu ouro na Canguru (de Matemática) e na OBA (de Astronomia e Astronáutica), além de bronze na OBB (Olimpíada Brasileira de Biologia). A primeira medalha conquistada foi na Canguru, ainda no 5º ano do Ensino Fundamental. “Era a primeira Olimpíada, todo mundo estava muito animado. Eu consegui bronze, mas alguns amigos tiraram prata, ouro, e eu fiquei incentivada a tentar no ano seguinte. E aí veio o ouro”, recorda à Super. Desde então, a jovem transformou as competições em parte integrante da sua formação. O apoio veio de dentro de casa. Seu pai, Sandro Yoshio Kuriyama, professor de Matemática e coordenador das olimpíadas do colégio, orienta e acompanha de perto a preparação. “Quando você faz uma Olimpíada, você precisa se preparar para o inesperado. Treinar novas habilidades, resiliência, capacidade de aprender coisas que não estão na sala de aula. A ideia [dessas competições] é dar subsídio para que os alunos cresçam além da rotina escolar”, explica Sandro. Marcela tenta conciliar o ritmo intenso de provas e estudos com hobbies e atividades extracurriculares. Faz pilates, joga jogos de tabuleiro, é fã de K-pop e aprendeu coreano sozinha em dois anos. Às vésperas do vestibular, ela sonha com a carreira em Relações Internacionais. Quer trabalhar com diplomacia e talvez vivenciar experiências no exterior – mas também atuar no Brasil. Ela também decidiu reduzir o número de competições para preservar o descanso. “Mesmo dormindo bem, há uma fadiga que vai se acumulando. Então, para eu chegar no vestibular tendo descansado, tendo tido um ano estável, foi importante reduzir”, diz. Competição desigual Para muitos jovens, as olimpíadas representam um passaporte para bolsas de estudo, oportunidades de pesquisa e ingresso em universidades de ponta. Mas também revelam desigualdades: de gênero, de acesso e de estrutura educacional, refletindo o abismo que ainda marca a formação escolar no País. Um dos temas que mais chama a atenção de Marcela é a falta de meninas nas competições. “Quando eu participei de uma Olimpíada de Matemática em Campinas, percebi a diferença. Era muito mais que o dobro de meninos. Isso me incomoda bastante. Um dos motivos de eu fazer várias Olimpíadas é para ser exemplo para outras meninas. Quero poder inspirá-las”, afirma. Marcela valoriza as redes de apoio formadas entre competidoras de diferentes escolas e estados. “Eu fico muito feliz por elas, e elas por mim, quando a gente consegue alguma conquista.” E deixa um conselho: “A Olimpíada não exige nada além do que vocês, meninas, podem desenvolver. Encarem como um desafio, como oportunidade de mostrar que não existe distinção de inteligência entre os gêneros.” Sandro confirma que a participação feminina vem crescendo. Ele cita a criação de competições exclusivas, como o “Quimeninas”, de Química, e o “Torneio Meninas na Matemática”. “No nosso colégio, já estamos perto de 50% de meninas e meninos na segunda fase da Olimpíada de Matemática. E as melhores notas são delas”, diz. Ótimo. Os obstáculos, contudo, vão além das questões de gênero. Na edição de 2022 do Pisa, avaliação internacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil alcançou 379 pontos em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências – respectivamente 93, 66 e 82 pontos abaixo das médias. Em matemática, ficamos na 65ª posição entre 81 nações avaliadas. Em leitura, fomos o 52º; em ciências, o 62º. Até mesmo os estudantes brasileiros de maior renda tiveram desempenho inferior ao de colegas de nível socioeconômico semelhante em países comparáveis. Para Sandro, esse resultado reforça como a educação brasileira ainda não garante condições iguais para todos os estudantes, sobretudo considerando que mais de 80% deles estão na rede pública. O professor também chama atenção para a preparação dos docentes e para a efetividade dos investimentos. Em sua avaliação, não basta entregar tecnologia ou materiais se os professores não forem capacitados para usá-los. “Há muito tempo vemos professores com dificuldade em trabalhar em sala de aula, tanto na rede pública quanto na particular. Não tenho uma solução definitiva, mas buscamos amenizar o problema trazendo a família para perto, reforçando a importância dos estudos e incentivando os adolescentes a sonharem mais alto. Muitos vivem apenas o presente, sem construir um projeto de vida – algo essencial para que possamos acompanhá-los de forma mais efetiva.” Outro ponto é a valorização da carreira docente. “Pergunte a um aluno qual profissão ele deseja seguir: dificilmente ouvirá que quer ser professor. A própria percepção de que não se trata de uma boa carreira já desestimula novos talentos. Precisamos investir seriamente nessa valorização.” Segundo ele, já não faz sentido basear as aulas apenas na memorização, mas sim na resolução de problemas, no trabalho em equipe e no desenvolvimento de competências socioemocionais. “Não podemos ensinar hoje como fazíamos ontem. É necessário atualizar constantemente nossas metodologias, buscar embasamento teórico e aprender com especialistas em educação.” E finaliza: “Na matemática, por exemplo, incentivamos o aluno a aprender com os próprios erros. Não podemos valorizar apenas quem acerta. Quem erra também precisa entender que o erro é parte do processo de aprendizagem. Caso contrário, quando um estudante que nunca falha se deparar com uma dificuldade, não saberá lidar com a frustração. Já aquele que aprende com os tropeços se torna mais preparado para avançar.”
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