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Objetos humanos de 650 anos são descobertos em ninhos de abutres
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Objetos humanos de 650 anos são descobertos em ninhos de abutres

Publicado em 7 de outubro de 2025 às 18:00

3 min de leitura

Quando o biólogo e arqueólogo Sergio Couto, da Universidade de Granada, começou a procurar ninhos esquecidos de quebrantahuesos – nome espanhol do abutre-barbudo (Gypaetus barbatus) – no sul da Espanha, não imaginava que encontraria vestígios humanos de mais de seis séculos guardados entre ossos e penas.

O resultado de sua busca, publicado na revista Ecology, revela que esses ninhos funcionam como autênticos museus naturais, preservando fragmentos da história ecológica e cultural da Península Ibérica.

Entre os materiais encontrados, uma sandália de fibra vegetal, um fragmento de couro pintado e cestos datam do fim do século 13. Outros achados incluem cordas, tiras de tecido, uma flecha de balestra (arma medieval semelhante a um arco e flecha) e apetrechos de montaria. Tudo misturado a milhares de ossos de animais de casco, como cabras e ovelhas, que faziam parte da dieta dessas aves necrófagas.

O resultado foi inesperado, sobretudo pela quantidade de “objetos fascinantes que começaram a aparecer, pois o normal é encontrar ossos”, explicou, ao El País, a arqueozoóloga Ana Belén Marín, diretora do grupo EvoAdapta da Universidade de Cantábria, especializada na análise de restos de animais em sítios arqueológicos e coautora da pesquisa.

“Analisamos como se fosse uma escavação, em camadas de 10 centímetros de espessura, o que permite obter um registro da acumulação ao longo do tempo”, acrescentou Marín. Poucas peças já foram datadas, mas a equipe continua com a pesquisa do farto material encontrado.

(A) Parte de um estilingue de capim-esparto. (B) Um detalhe de uma seta de besta e sua lança de madeira. (C) Agobía (Sierra Nevada, Granada), um calçado rústico feito de várias espécies de grama e galhos. (D) Um fragmento de cestaria (E) Um pedaço de couro de ovelha e (F) um pedaço de tecido.Sergio Couto (A, B, D, e F) e Lucía Agudo Pérez (C e E)/Divulgação

O levantamento foi conduzido entre 2008 e 2014, com a análise detalhada de 12 ninhos antigos bem preservados em cavernas e abrigos rochosos da Andaluzia. No total, os cientistas recuperaram 2.483 fragmentos, dos quais 2.117 eram ossos e 43 cascas de ovos. O restante (9,1%) correspondia a 226 objetos humanos, entre eles 25 feitos de fibra vegetal, 72 de couro, 11 de cabelo e 129 de tecido

Os materiais foram datados por carbono-14 em um laboratório na Suíça. A sandália, por exemplo, tem 674 anos, enquanto o couro pintado foi datado em 651 anos.

Segundo comunicado divulgado pela universidade, o interesse de Couto pelo tema surgiu em 2006, quando colaborava em um projeto europeu de reintrodução dos quebrantahuesos na Andaluzia. A espécie havia desaparecido da região entre 70 e 130 anos atrás, vítima da caça e do uso de venenos.

Para localizar ninhos históricos, ele vasculhou relatos de naturalistas dos séculos 18 e 19 e entrevistou moradores mais velhos, que ainda lembravam de histórias sobre as aves. Com o apoio de escaladores e agentes ambientais, chegou a penhascos de até seis metros de altura, onde alguns ninhos alcançavam três metros de diâmetro.

“Um ninho novo teria lã, galhos… Mas o que nos dá a pista de que estamos diante de um ninho histórico são os excrementos brancos”, contou Couto ao El País. As manchas vêm da dieta singular dos abutres-barbudos: eles se alimentam quase exclusivamente de ossos, que são digeridos graças ao pH extremamente ácido do estômago.

Fonte: Superinteressante

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