
Paracetamol na gravidez causa autismo? O que dizem os maiores estudos já feitos
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 14:16
3 min de leituraNa última segunda-feira (22), o presidente americano Donald Trump disse que o consumo de Tylenol – o nome comercial mais comum do paracetamol nos EUA – durante a gravidez pode causar autismo nas crianças. A alegação, feita numa conferência de imprensa, não é comprovada pelas evidências científicas e foi contestada por especialistas, organizações médicas e órgãos como a OMS e agências reguladoras europeias.
O anúncio do governo veio depois de várias falas do presidente e de Robert F. Kennedy Jr., o Secretário de Saúde dos EUA, que nos últimos meses vinham prometendo solucionar a causa do autismo. Na mesma ocasião, a dupla repetiu a mentira de que vacinas também podem levar à neurodivergência, uma alegação que nasceu de um estudo fraudada e já foi descartada após décadas de pesquisas.
O pronunciamento do presidente também foi acompanhado por uma nota da FDA, a agência reguladora dos EUA, anunciando uma mudança na bula para alertar os médicos e pacientes sobre uma “possível associação” entre o medicamento e o autismo.
Mas, diferente do presidente, a “Anvisa americana” adotou um tom muito mais cauteloso. “É importante observar que, embora uma associação entre paracetamol e distúrbios neurológicos tenha sido descrita em muitos estudos, uma relação causal não foi estabelecida e também há estudos contrários na literatura científica”, destaca o pronunciamento.
Para defender seu novo posicionamento, o governo americano cita alguns estudos que investigaram a associação entre o medicamento e o autismo. Mas, no seu cerne, a alegação ignora a maneira como recomendações de saúde são formuladas – e o próprio caminho das pedras da pesquisa científica. Os melhores estudos não apontam para um risco do Tylenol; vamos entender o porquê.
O que dizem as evidências
A nova diretriz não veio totalmente do nada. De fato, há estudos que mostram uma possível associação entre o consumo de paracetamol por parte de mulheres grávidas e maiores riscos de seus filhos serem diagnosticados com neurodivergências, como o autismo ou TDAH. Mas a questão está para lá de ser conclusiva – e há várias pesquisas, maiores e mais bem formuladas, que não mostram qualquer risco.
Um dos problemas é que estudar o assunto é difícil. O paracetamol não exige receita e é consumido por conta própria pelos pacientes – o que significa que não há um registro confiável, formalizado em prontuário, sobre as doses, frequência do consumo, causas que levaram o paciente a recorrer ao analgésico etc. Os cientistas precisam recorrer a questionários aplicados diretamente com os participantes de pesquisas, que são instrumentos menos confiáveis (as pessoas podem esquecer, subestimar ou superestimar números ou simplesmente mentir, afinal).
Dito isso, vamos às evidências. Um artigo publicado neste ano na revista científica Environmental Health e liderado por um pesquisador de Harvard analisou 46 estudos que investigaram a questão e descobriu que 27 deles apontavam um possível risco maior de autismo e/ou TDAH em crianças cujas mães usaram paracetamol durante a gravidez. Essa pesquisa e notícias relacionadas a ela têm sido usadas para defender a posição do governo americana, inclusive nas redes sociais. Mas ela não prova nada.
A análise sugere que pode haver uma correlação entre autismo e o consumo de paracetamol na gravidez, mas não mostra que há uma causalidade entre as questões. Há fatores de confusão na jogada: mães que recorrem ao analgésico podem ter infecções ou outros problemas de saúde que causem dor e/ou febre, e por isso não formam um grupo comparável com o das mulheres que não tomam o remédio na gestação. Uma ligação aparente entre o paracetamol e o autismo pode ser explicada por outros fatores que não o medicamento em si.
Pesquisadores sabem disso, e tentam ajustar seus resultados para considerar os fatores de confusão, mas não é possível eliminá-los 100%. Essa é uma das razões pela qual há resultados conflitantes entre estudos.
Fonte: Superinteressante
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