
Por que é tão difícil salvar o clima? Um guia para entender a COP30
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 10:00
3 min de leituraO químico Svante Arrhenius foi o primeiro a teorizar que o aumento da concentração de CO₂ na atmosfera esquentaria a Terra. Em 1896, numa conta ainda muito especulativa, ele previu que a temperatura média aumentaria 5 °C nos próximos séculos – ou milênios. Para Svante, tudo bem: as pessoas do futuro viveriam “sob um céu mais ameno e em ambientes menos estéreis”.
O sueco acertou que o termômetro subiria, mas errou feio nos prazos – e nas consequências. O ano passado foi o mais quente já registrado pelos humanos. A Terra ficou, em média, 1,55 °C acima da temperatura do período pré-industrial, segundo a Organização Meteorológica Mundial. A culpa é nossa: em 2024, jogamos 37,4 bilhões de toneladas de CO₂ na atmosfera graças à queima de combustíveis fósseis, um recorde.
Os efeitos do aquecimento global não se limitam mais a projeções. Só no ano passado, 60 mil pessoas morreram por causa de ondas de calor na Europa, enchentes devastaram o Rio Grande do Sul e a Espanha, e o Brasil teve a maior seca da sua história. A crise já começou, e vai piorar.
Mais do que nunca, o tema bate à nossa porta. Em novembro, o mundo se reúne em Belém para a 30ª edição da COP, principal conferência climática da ONU. Lula quer aproveitar a oportunidade para alçar o Brasil a líder ambiental. É possível: o governo tem trunfos como a redução do desmatamento e propostas promissoras para a comunidade internacional. Mas há algumas inconsistências no caminho, como a vontade de abrir novas frentes de exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.
O próprio palco da COP30 representa essas contradições. Trazer a conferência para a Amazônia é simbólico, mas Belém tem desafios graves de infraestrutura e logística. Você já sabe: enquanto as discussões ambientais deveriam ser prioridade, as manchetes só falam da crise das acomodações insuficientes. O evento pode flopar por falta de gente para negociar.
Para piorar, o cenário internacional é desfavorável. Nos EUA, maior contribuinte histórico do aquecimento global, Trump colocou a mais poderosa economia do mundo na contramão das pautas ambientais. Além disso, conflitos como a guerra na Ucrânia drenam o dinheiro que poderia ser usado no financiamento climático. No mundo todo, movimentos nacionalistas em alta ameaçam o multilateralismo e a cooperação internacional.
Diante de tudo isso, temos alguma chance de progredir? Nos próximos parágrafos, vamos entender o tamanho do desafio climático, como funciona uma COP – e quais são as possíveis saídas para esta crise.
–Augusto Zambonato/Superinteressante O problema
Vamos relembrar as aulas de ciências: parte do calor que vem do Sol é absorvida pela Terra; o restante reflete de volta para o espaço. A atmosfera terrestre, porém, contém gases como o CO₂ e o metano, que impedem que essa energia retorne ao espaço. É o famoso “efeito estufa”, essencial para a vida – não fosse por ele, a temperatura média do planeta seria de -18 °C.
O problema: aumentar o nível dos gases estufa é como jogar outra manta sobre o corpo. Use mais cobertores do que o necessário e logo o sono se torna desconfortável. E haja suor. As emissões em excesso vêm, sobretudo, da queima de carvão, petróleo e gás natural – combustíveis fósseis que liberam CO₂ e outros gases na atmosfera.
Demorou um bom tempo depois dos estudos de Arrhenius para que a comunidade científica entendesse o que estava acontecendo. A medição confiável de CO₂ na atmosfera só começou em 1958, no Havaí. Nos anos 1960, pesquisadores americanos foram pioneiros ao alertar o governo dos EUA sobre o perigo do aquecimento global no futuro.
As pistas foram se amontoando. Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial fundou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), maior autoridade no tema – milhares de pesquisadores já contribuíram para os seus relatórios. Hoje, é consenso científico que o aquecimento global é causado pela ação humana (e não por fatores naturais).
Ora, se o problema são as emissões de gases de efeito estufa, basta parar de emiti-los, certo? Acontece que isso é o maior desafio coletivo da História. Desde a metade do século 18, o desenvolvimento mundial depende da queima de combustíveis fósseis.
Fonte: Superinteressante
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