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Quem foi o Barão de Itararé, o jornalista irreverente que enfrentou presidentes usando humor
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Quem foi o Barão de Itararé, o jornalista irreverente que enfrentou presidentes usando humor

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 18:00

2 min de leitura

Em outubro de 1934, Apparício Torelly foi sequestrado por oficiais da Marinha após publicar um folhetim que relembrava a Revolta da Chibata, manifestação liderada por João Cândido (o Almirante Negro) que lutou contra as práticas escravagistas por militares.

Torelly foi espancado, teve a cabeça raspada e foi abandonado quase nu num terreno baldio. Em um surto de coragem – ou de falta de amor pela própria vida – agradeceu por lhe terem “poupado o gasto com o barbeiro”. Voltou à redação no mesmo dia e pendurou na porta uma placa com os dizeres: “Entre sem bater”.

O episódio ajudou a consolidar sua fama de provocador incorrigível – um cronista que transformava humilhação em piada e desobediência em manchete.

Quase um século depois, Torelly ganha novo fôlego. No dia 25 de outubro, o canal Curta! exibe o documentário “O Brasil que não houve: as aventuras do Barão de Itararé no reino de Getúlio Vargas”.

Narrado por Gregório Duvivier e dirigido por Arnaldo Branco e Renato Terra, o filme revisita a trajetória de Apparício, também conhecido como o Barão de Itararé – um dos nomes mais singulares da imprensa brasileira, que fez do humor uma forma de enfrentamento político. Confira o trailer abaixo:

A escolha do nome que o consagrou nasceu de um episódio real que nunca chegou a acontecer. Durante a Revolução de 1930, as tropas do governo e as forças revolucionárias de Getúlio Vargas preparavam-se para um confronto decisivo em Itararé, no Paraná – anunciada como a batalha “mais sangrenta da América do Sul”.

Antes do primeiro tiro, porém, o presidente Washington Luís foi deposto no Rio de Janeiro. Apparício, então, se autoproclamou “Barão de Itararé”, nobre de uma batalha que não existiu. Era uma ironia sobre o país das promessas que não se cumprem.

O pseudônimo resumia sua visão de mundo. Para ele, a solenidade era uma forma de fingimento. Seu humor atacava o autoritarismo e o moralismo com frases que atravessaram gerações: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”; “Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato”; “Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Da infância trágica ao primeiro jornal

Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly nasceu em 29 de janeiro de 1895, em Rio Grande (RS), município a 317 quilômetros de Porto Alegre. O pai era comerciante. A mãe, uruguaia, morreu quando ele tinha menos de dois anos, ao se suicidar com um tiro na cabeça.

Até hoje, a razão do suicídio permanece incerta. A suspeita é que tenha relação com o temperamento violento do marido.

O menino foi criado em escolas jesuítas e logo se destacou pelo espírito debochado. No Colégio Nossa Senhora da Conceição, criou o Capim Seco, um jornal manuscrito de humor que circulava entre os colegas.

Desde cedo, desafiava a autoridade com trocadilhos e respostas afiadas. Quando o professor de português pediu que conjugasse um verbo qualquer no “mais-que-perfeito”, ele respondeu: “O burro vergara ao peso da carga”.

Fonte: Superinteressante

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