
Reconstrução digital mostra como feixe de prótons atravessou cérebro de físico soviético
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 16:00
2 min de leituraFonte: Superinteressante
Em 1967, entrou em operação em Protvino, na União Soviética, o acelerador de partículas U-70. Considerado o mais potente do mundo na época, ele era capaz de acelerar prótons a velocidades próximas à da luz.
Onze anos depois, em 13 de julho de 1978, o físico Anatoli Bugorski, então com 36 anos, passou por um acidente quase fatal enquanto trabalhava no equipamento.
O U-70 havia parado de funcionar, e Bugorski entrou no túnel para inspecionar o defeito, acreditando estar protegido pelos mecanismos de segurança que impediam a emissão de partículas com o sistema aberto. Esses dispositivos, no entanto, falharam.
Um feixe de prótons atravessou sua cabeça, entrando pela parte de trás e saindo pela narina esquerda, expondo-o a uma dose de radiação 200 a 300 vezes superior ao limite considerado letal sem tratamento. Bugorski descreveu o episódio como um clarão “mais brilhante do que mil sóis”.
Apesar das sequelas graves – paralisia facial do lado esquerdo, perda total da audição no ouvido esquerdo, convulsões recorrentes e fadiga mental –, ele sobreviveu, concluiu o doutorado e continuou trabalhando como físico nuclear.
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Décadas depois, o designer 3D brasileiro Cícero Moraes, em parceria com a fisioterapeuta Lis Moura, decidiu aplicar técnicas de reconstrução digital para entender melhor o que ocorreu com Bugorski.
O trabalho, divulgado on-line e ainda não revisado por pares, enfrentou uma limitação importante: não havia registros médicos detalhados, apenas uma fotografia e relatos jornalísticos.
“O caso de Bugorski é único e surpreendeu-nos a ausência de artigos acadêmicos sobre o tema, havendo apenas notícias que o abordavam sem aprofundamento. Identificamos nisso uma espécie de ‘chamado técnico’ para elaborar o manuscrito”, afirma Cícero à Super.
A dupla discutiu hipóteses sobre o trajeto do feixe, consultou literatura sobre anatomia, lesões ósseas e cerebrais e confrontou fragmentos de diagnósticos com o histórico do caso, buscando reconstruir de forma consistente a trajetória provável do feixe.
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Para isso, utilizaram softwares de código aberto, como o OrtogOnBlender XP, desenvolvido por Moraes, e tomografias de “doadores virtuais” – imagens de cérebros digitalizados que permitem simular anatomias humanas.
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