
Seca nos rios da Amazônia, chuva recorde em São Paulo, ciclones no Sul: pesquisa explica em detalhes a onda de eventos extremos que varreu o Brasil em 2023
Publicado em 11 de outubro de 2025 às 18:00
3 min de leituraO texto abaixo foi publicado originalmente no Jornal da Unesp.
A maior chuva já registrada na história do Brasil; uma seca intensa que reduziu os rios amazônicos aos menores índices de que se tem notícia; uma sequência de temporais que levou o estado do Rio Grande do Sul a bater o recorde de vítimas fatais por enchentes e desabamentos — recorde que seria superado apenas um ano depois, na tragédia de 2024.
Tudo isso ocorreu em 2023, ano que despertou os brasileiros para a dura realidade de que as mudanças climáticas já chegaram, e que pagaremos com vidas humanas pelo nosso despreparo para enfrentá-las. Este ano, um estudo conduzido com a participação de pesquisadores da Unesp elucidou quais foram os fenômenos atmosféricos que contribuíram para ocasionar resultados tão avassaladores.
O estudo envolveu 19 cientistas, todos brasileiros, e apresentou seus resultados em um artigo publicado nos Anais da Academia de Ciências de Nova York. O texto teve como primeira autora Luana Pampuch, professora do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Unesp em São José dos Campos.
“Rios voadores” e Atlântico quente abasteceram tragédia no litoral paulista
A chuva que caiu sobre o litoral norte do estado de São Paulo na madrugada dos dias 18 e 19 de fevereiro de 2023 foi a maior da história do país em um intervalo de 24 horas; fez 65 vítimas fatais e 338 desabrigados. O município de Bertioga registrou o recorde nacional, com 682,8 mm de precipitação.
Naquela ocasião, uma massa de ar frio oriunda do Oceano Atlântico encontrou o ar quente sobre o litoral paulista. Massas com temperaturas e umidades diferentes se comportam um pouco como água e óleo, sem se misturar. Quando uma frente fria avança, ela ocupa a parte mais baixa da atmosfera por ser mais densa e empurra para cima o bolsão de ar mais quente.
Conforme o ar quente sobe, ele esfria. E, conforme esfria, perde capacidade de reter umidade — o que faz com que o vapor d’água condense e caia na forma de chuva. A Serra do Mar, que é um degrau íngreme no relevo, ajuda nesse processo, já que o vento não tem como fugir do paredão e só pode mesmo subir. Chuvas causadas por características do relevo são denominadas chuvas orográficas.
Esse é um fenômeno corriqueiro na geografia da região, mas acabou acentuado por condições anômalas no Oceano Atlântico, que estava algo entre 1 e 2 °C mais quente do que o habitual — o que significa mais água evaporando e servindo de combustível para as tempestades. O calor nas águas não é coincidência: em relação à média da era pré-industrial, a temperatura média da superfície dos oceanos já aumentou em 0,9 °C por causa das emissões de gases de efeito estufa. O resultado é que sempre haverá massas de ar mais quentes e mais vapor, o que se traduz em chuvas mais volumosas.
“Existe uma metodologia para atribuir um fenômeno climático extremo às mudanças climáticas de origem antropogênica; para identificar o quanto de um evento está associado à atividade humana”, diz Camila Carpenedo, líder do Núcleo de Estudos sobre Variabilidade e Mudanças Climáticas (Nuvem) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que também assina o artigo. “Não fizemos essas análises de atribuição neste artigo, mas o aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos é compatível com um planeta em aquecimento”, diz ela.
Outro fator que contribuiu para a intensidade das chuvas naquele ano foi o chamado jato de baixos níveis sul-americano, popularmente conhecido como rios voadores. O primeiro passo para entender os tais rios é a constatação de que os ventos que correm ao longo da linha do Equador, denominados ventos alísios, sempre sopram no sentido leste-oeste.
Essa via atmosférica de mão única é resultado de um mecanismo denominado efeito Coriolis, que empurra o ar que chega ao Equador na direção oposta à da rotação da Terra. Normalmente, os alísios tentam levar o ar úmido da Amazônia para o Pacífico, mas, no meio do caminho, deparam-se com a Cordilheira dos Andes. A Cordilheira deflete esses ventos para regiões mais ao sul, o que alimenta chuvas.
Fonte: Superinteressante
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