
Nos últimos 50 anos, a música pop ficou mais negativa e simples, diz estudo
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 08:00
3 min de leituraStevie Wonder, no auge da década de 1970, escrevia músicas pop sobre amores imensuráveis e alegrias que explodiam o peito: falava do nascimento de sua filha, com a música Isn’t She Lovely e de um romance ordinário, mas não menos incrível, com I Just Called To Say I Love You. Por muito tempo, a música popular serviu como espaço de celebração, romance e escapismo. No entanto, um estudo recente indica que, ao menos nas paradas de sucesso, o tom das canções tem se tornado progressivamente mais sombrio, introspectivo e menos complexo – um movimento que reflete transformações culturais mais amplas.
Os pesquisadores analisaram mais de 20 mil canções que entraram no Billboard Hot 100 entre 1973 e 2023. O resultado aponta para uma transformação gradual, porém consistente, no tom emocional da música pop: o otimismo diminuiu, a negatividade aumentou e palavras associadas ao estresse – como “pressão”, “luta” e “sozinho” – tornaram-se mais frequentes.
Ao mesmo tempo, a sofisticação linguística das letras parece ter diminuído. Canções recentes tendem a ser mais repetitivas e simples em sua construção verbal. Para medir isso, os pesquisadores recorreram a um método incomum: um algoritmo de compressão. Letras que podiam ser “comprimidas” com mais facilidade foram consideradas linguisticamente mais simples, por conterem repetições e menos variação de vocabulário. Pense na música Work da Rihanna (2016), por exemplo, que o refrão consiste apenas na repetição frequente de “work, work, work, work, work”.
O fenômeno não parece restrito à música internacional. No Brasil, também é possível observar uma inflexão temática. Se a MPB clássica exaltava encontros, paisagens e afetos – como em O Leãozinho, de Caetano Veloso, ou Como Nossos Pais, de Belchior –, parte da produção atual tem se voltado para dilemas internos, angústias e desencanto.
Ainda assim, os autores do estudo fazem questão de moderar conclusões apressadas. “Nossos achados descrevem padrões estatísticos amplos ao longo de milhares de músicas”, afirmou Mauricio Martins, autor principal da pesquisa, para o Times. “Isso não significa o desaparecimento de músicas alegres, esperançosas ou sofisticadas”. As paradas continuam a abrigar uma mistura de emoções e estilos.
“Notavelmente, embora tanto o estresse quanto a simplicidade tenham aumentado ao longo do tempo, eles exibiram uma relação negativa quando a tendência temporal foi removida, sugerindo que níveis mais altos de estresse correspondiam a letras mais complexas. Como esperado, estresse e sentimento apresentaram correlação negativa”, escrevem os pesquisadores no estudo publicado na revista Scientific Reports.
Curiosamente, nem todos os choques históricos empurraram a música para a escuridão. Os pesquisadores esperavam que eventos traumáticos – como os ataques de 11 de setembro ou a pandemia de Covid-19 – resultassem em letras mais angustiadas. O efeito observado foi o oposto: nesses períodos, as músicas das paradas tornaram-se ligeiramente mais positivas e menos estressadas, sugerindo uma busca coletiva por conforto.
Houve também momentos de inflexão. Em 2016, após décadas de simplificação progressiva, a complexidade lírica voltou a crescer temporariamente. O estudo aponta que esse período coincidiu com o primeiro mandato de Donald Trump, embora as razões permaneçam incertas.
Fonte: Superinteressante
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